domingo, 17 de novembro de 2019

♪ Alto preço, por Damares ♫

- Cuidado com o que ouve! (17 de novembro de 2019)
A música desta postagem é atendendo a pedido de nosso irmão Marcos, ao qual peço desculpas pela demora em atendê-lo, mas foi necessário escrever uma postagem introdutória para não ficarmos tratando a relação do cristão com a música de forma fragmentada (se você ainda não leu é aconselhável fazê-lo antes de ler esta, clicando aqui), além das dificuldades cotidianas. Esta é a primeira música “evangélica” que tratamos em nossa série de postagens e esperamos que sejamos compreendidos sem precisar abordar determinadas doutrinas antes, mas, se acharem necessário uma abordagem de alguma doutrina que eventualmente seja mencionada, deixem nos comentários que procuraremos a melhor forma de atendê-los no menor tempo possível. Vamos a letra:
   
1. Hoje quando penso em desistir,
2. Trago a memória a forte cena ali na cruz.
3. O Teu sangue me justificando,
4. Minha alma registrando sua marca, oh! Meus Jesus.
5. Embora o alto preço a minha salvação pagou,
6. Sem santidade não verei seu rosto, oh! Meu Senhor.
7. Isso também custa muito caro,
8. Vale mais do que meu próprio esforço.
9. Eu Tenho que morrer para as minhas vontades,
10. Pra poder viver no centro da verdade.
11. Te obedecer renunciando o mundo,
12. Com a minha cruz, dizendo não pra mim
13. E sim pra Ti, minha luz! Isto tem um preço,
14. Vou pagando o preço pra te ver, Jesus.
15. Vale a pena me santificar,
16. Buscando o Teu reino em primeiro lugar,
17. Guardando sobre tudo o meu coração,
18. Cada porção de mim está em suas mãos,
19. Vale a pena me santificar.
20. Pregar Tua palavra e não religião,
21. Multiplicar o amor,
22. Porque o inferno tem a matemática da divisão
23. E o Senhor, tem da multiplicação.
24. Eu tô pagando, eu tô pagando,
25. O preço pra morar no céu eu tô pagando.
26. Eu vou lutando, eu vou chorando,
27. Cada detalhe o Senhor está somando.
28. Eu tô pagando, eu tô pagando,
29. O preço pra morar no céu eu tô pagando.
30. Eu vou lutando, eu vou chorando,
31. A santidade tem um preço, eu tô pagando.
32. Tô pagando, tô pagando
33. Um alto preço.
34. Um alto preço.
Compositor: Anderson Freire
As músicas “evangélicas” dificilmente trataremos como as músicas seculares, abordando linha a linha. Serão abordadas de uma forma mais geral, buscando no conjunto as doutrinas ou pontos errados. E as linhas específicas apenas as que tragam alguma ideia fechada nelas. Acreditamos que desta forma ficará mais fácil de expormos, o que deve facilitar o entendimento.
Antes de começarmos tenho que explicar mesmo que rapidamente que entendo as Escrituras com uma separação de perspectivas: hora divina, hora humana. Quanto a soteriologia, sou monergista, e nos textos usados para defesa pelos sinergistas não os tenho como antagônicos, mas apenas como uma mudança de perspectiva, assim, harmônicos. Então vejo sempre a perspectiva divina como que trazendo a causa e a perspectiva humana, a consequência. Logo considero irrelevante a discussão entre calvinistas e arminianos, mas admito que tal divergência tenha uma utilidade prática. Assim aconselho a conhecerem as duas. Estudem bastante!
Até fiquei um pouco surpreso quando vi que o compositor desta música é o Anderson Freire, porque gosto de várias de suas músicas e até já defendi (não aqui) uma de suas composições, mas nesta, realmente podemos apontar alguns erros. Então vamos ver quais:
A. Quero começar logo pelo ponto mais polêmico: esta música é sinergista. Se precisasse apontar um lugar específico que me levou a esta conclusão diria que está no termo “embora” na linha “5.” e “sem” na “6.”. Como já mencionei acima, sou monergista, portanto a música ter caráter sinergista, para mim é um erro. Todo o restante do que vamos escrever aqui ao falarmos da composição deve ser entendido a partir desta observação: “embora Cristo tenha pago o preço, sem esforço próprio não serei salvo”. Isto pode parecer coerente, mas na verdade não é. Se pegarmos, por exemplo, alguém que recebe a Cristo logo antes de sua morte, qual esforço ele fez? Ademais se pegar pontos isolados da música pode-se entendê-los como certos, então entendam que na música há música toda é um texto que visa transmitir uma mensagem e não várias. Se você é sinergista pode ser que não veja nenhum problema nela, mas peço que acompanhe o restante do texto, você concordará conosco em alguns pontos;
B. A linha “6.” é claramente uma referência ao texto de Hb. 12:14: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor,”. O erro no entendimento deste texto é causado pelo pensamento sinergista que distorce a causa e a consequência. Enquanto os monergistas colocam a causa em Deus e a consequência no homem, os sinergistas o invertem na maior parte do tempo. Veja que esta música usa o seguinte raciocínio baseado neste texto: “sem santificação não verei a Deus, logo não serei salvo, portanto cabe a mim pagar o preço da salvação me santificando”. Caso você ache que há uma inversão da conclusão vamos alterá-la: “sem santificação não verei a Deus, logo não serei salvo, portanto cabe a mim pagar o preço da santificação para que assim eu seja salvo”. Perceba que não importa como você conclua, no final você está pagando o preço da salvação, e não Cristo. Isto é tão lógico que a própria música conclui isto nas linhas “25.” ou “29.”. O cap. 12 de Hb. está mostrando que é Deus quem nos conduz na santificação, nos corrigindo, disciplinando e até reprovando algumas vezes. Conclusão: a santificação é a consequência da salvação e não a causa;
C. O exposto no ponto “B.” nos leva ainda a uma contradição na composição também causada pelo pensamento sinergista. Esta contradição está apontada olhando para a linha “3.”+”5.” e “25.” ou “29.”. Para o sinergista Deus dá o presente, mas cabe ao homem aceitá-lo ou não. Então surge o problema: se Jesus pagou o preço da nossa salvação, mas temos que pagar algum preço para alcançarmos esta salvação, então o preço que Jesus pagou não foi suficiente. Ficando apenas com a carta aos Hebreus cujo texto é o cerne desta música lemos em 10:14: “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”. Já falamos diversas vezes que pegar textos isolados para fazer doutrina é perigoso. Se você está lendo apenas o vv. do capítulo 12 terá um entendimento errado do que o autor se refere, pois ele mesmo já havia esclarecido antes quem é a causa da santificação;
D. Resta então, para fecharmos o ponto da santificação, mostrarmos quem o autor de Hebreus diz ser a causa da santificação e isto está logo no início da epístola, lá em Hb. 2:10-11: “Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles. Pois, tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por isso, é que ele não se envergonha de lhes chamar irmãos,” (grifos nosso). A conclusão do autor da carta aos Hebreu é que Cristo, por meio de sua morte, se tornou aquele que santifica e, portanto, aquele que salva;
E. Outro erro da música é a noção de “alto preço”. Geralmente tratamos as coisas que envolvem preço como “caras” ou “baratas”, como na linha “7.”. Algo está com um “alto preço” ou “caro” quando o seu preço é maior do que analisamos que esse algo vale, do contrário está com “baixo preço” ou “barato”. Aqui então temos que esta música acerta ao dizer que Jesus pagou um alto preço por nossa salvação, isto é, o preço que foi pago é muito maior do que nós valemos, e erra ao dizer que o preço que estamos pagando para sermos salvos é alto, quando o que pagamos é pouco em relação ao que vale. Na verdade, não pagamos nada pela salvação; pois não precisamos pagar nada por ela, ou seja, a salvação é de graça, isto é, somos justificados gratuitamente conforme escrito em Rm. 3:24, que diz: “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus,” (grifo nosso e outros textos que trazem este entendimento: Sl. 6:4; At. 15:11; Ef. 2:5; 2:8; Tt. 2:11; Ap. 21:6; 22:17). Se é gratuito não preciso pagar preço algum;
F. Como mencionamos antes, os sinergistas quando vão exemplificar seu pensamento, de forma simples, eles dizem que a salvação é como um presente que Deus dá e cabe ao homem aceitar ou não. Sé é um presente você não paga nada por ele, senão não seria um presente. A salvação também não é como se o presente fosse um veículo, que você não paga por ele, mas tem que pagar pelo combustível e manutenção; afinal todas as coisas nos são dadas por Deus. Se você ganha salário com seu trabalho, só o faz porque Deus lhe dá saúde para tal. Conforme Jesus disse: “Se, portanto, nada podeis fazer quanto às coisas mínimas, por que andais ansiosos pelas outras?” (Lc. 12:26) e “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo. 15:5);
G. Jesus disse que “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.” (Mt. 13:44), que é diferente do que está escrito na linha “26.” ou “30.” desta música e, se com felicidade você vende tudo que tem para comprar algo mais valioso, então este algo não é caro. E, não! O que acabamos de dizer não valida o que está sendo dito na música ou mesmo o pensamento sinergista. Lembre-se do que escrevi ao início: harmonia, não antagonismo;
H. São Paulo também falou sobre isso em sua carta aos Filipenses: “Pensava que essas coisas eram valiosas, mas agora as considero insignificantes por causa de Cristo.” (Fp 3:7 [NVT]) ”Sim, todas as outras coisas perdem o valor quando comparadas com o ganho inestimável de conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Eu pus de lado tudo o mais, achando que valia menos do que nada, a fim de que possa ter a Cristo,” (Fp 3:8 [VIVA(Br)]). Paulo certamente não diria que estava pagando um “alto preço” por causa da santificação, ideia reforçada em algumas versões que traduziram “menos que nada” para “refugo”, “lixo” ou mesmo “esterco”;
I. Quanto a linha “20.” já tratamos do assunto em outras postagens, algumas mais especificamente (como a de 12 de fevereiro de 2015) e outras mais superficialmente (como as de 24 de março de 2018 e 12 de janeiro de 2019). Deem uma lida, por favor;
J. Das linhas “20.” a “23.” há pensamentos estranhos. Vamos tomar o uso do termo “matemática” da linha “22.” como uma opção melódica onde provavelmente seria usado o termo “operação”, o que afetaria a sílaba poética. Há apenas um texto na bíblia que usa a expressão da linha “21.” que se encontra em Judas 1:2 e este é uma saudação, logo não é uma doutrina. Não faço ideia de onde ele tirou a ideia da linha “22.” de que o inferno divide e da linha “23.” de que o Senhor multiplica o amor. Como Deus é amor (I Jo. 4:8) não é possível que Ele multiplique a si mesmo e o inferno não pode dividi-Lo. Se formos falar do amor entre humanos temos um texto interessante escrito em Mt. 10:34-37, onde Jesus diz que não veio trazer paz, mas espada, que os da sua própria casa serão seus inimigos, que quem ama mais qualquer outra coisa que a Ele não é digno d’Ele e em Mt. 24:12 diz que o que vai se multiplicar é a iniquidade, enquanto “o amor se esfriará”;
Para concluir, precisamos ainda dizer que o principal problema das músicas “evangélicas” que contém erros é que esses facilmente são assimilados e espalhados como verdades bíblicas. Por estarem muitas vezes sendo cantadas dentro dos templos a comunidade entende seu conteúdo como verdade. Portanto deve haver um certo cuidado dos dirigentes das congregações em filtrar quais músicas estão sendo cantadas em seus cultos. Infelizmente o que temos visto é justamente o contrário. Além de não filtrarem é absurdamente comum ouvir pregações em que o orador se utiliza de ideias retiradas de músicas que extrapolam o texto bíblico e que em sua maioria são menções equivocadas provindas de uma falsa visão do fato ou mesmo uma falsa doutrina. Esperamos que este texto possa ajudar a melhorar a qualidade com que louvamos a Deus em nossas vidas e cultos.
Vamos ficando por aqui, até a próxima e tenham muito CUIDADO COM O QUE OUVEM!
P.S.: Se tiverem alguma música que queiram entende-la melhor, deixe seu título e intérprete nos comentários. Podem ser músicas seculares ou “gospel”. Faremos o possível para atendê-los.
 sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo,” (I Pe. 1:18-19)
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.

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Abreviaturas:
- NVT = Nova Versão Transformadora;
- VIVA(Br) = Bíblia Viva em Português do Brasil;

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

⏳ O cristão e a música ⌛


» Out of Series (17 de outubro de 2019)

Para atender ao próximo pedido para nossa série “Cuidado com o que houve” é necessário falarmos um pouco sobre a relação do cristão com a música. O objetivo é tentar delimitar uma linha divisória entre o que é bom (e recomendado) e o que não é. Não temos intenção de dizer o que pode ou não pode. Nada do que será escrito aqui deverá ser entendido como legalismo e, logicamente, esta postagem é minha opinião sobre o assunto, mas, como sempre, tentaremos ficar dentro do bom senso e, principalmente, dentro do que as Escrituras determinam. Evidentemente não possuo (e acredito que ninguém o possua) a última palavra sobre o assunto, mas peço que analisem com carinho, retendo o que é bom, e descartando o que, porventura, não o for.

Um dos maiores problemas em todos os tempos, no meio cristão, é nossa relação com a música. Ritmos e letras são tão diversas que pode ficar difícil definir o que é certo e errado e é natural surgir perguntas como: “posso ouvir tal música?” ou “qual tipo de música podemos tocar na igreja?”. Tentaremos aqui abordar um pouco de cada coisa, mas como nossa série de postagens é voltado para o conteúdo, isto é, a letra, vamos abordar tendo este foco. Abordaremos a questão de ritmo muito superficialmente, apenas para exemplificações.
Antes de começarmos é preciso explicar o que são:
- Músicas seculares: próprio do século (no sentido de 'mundo'); que não cabe à Igreja; profano, temporal, mundano;
- Músicas sacras: relativo ao que é divino, à religião, aos rituais e ao culto; sagrado, santo;
Estas definições são encontradas no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Quando falamos de música, o que é pecado?
Evidentemente que a principal preocupação do cristão deve ser a de não viver pecando e procuramos conhecer todas as coisas possíveis para evitarmos isso. Assim, é natural que ao falarmos de algo, nossa primeira abordagem seja o que é pecado.
Então, o que é pecado quando falamos sobre música?
Muitos vão dizer que há ritmos que são pecaminosos, outros que o tipo (secular) e outros ainda que não há pecado em relação a música. Vamos buscar então pôr termo a algumas dessas divergências e definir alguns parâmetros para uma análise que mesmo geral, seja mais objetiva.
Será estranho após dizermos isso lhes trazer algo tão vago quanto o que vamos escrever agora, mas é verdade que o caminho mais simples será responder a algumas perguntas iniciais: “onde?”, “qual (ou o quê)?”, “quando?” e “por qual motivo (ou porquê)?”.
Se conseguirmos responder estas quatro perguntas e ficarmos satisfeitos com a resposta, muito provavelmente, não será pecado, do contrário, há uma grande possibilidade de pecarmos (esperamos um dia tratar de forma mais profunda do tema do pecado, se Deus assim nos permitir). Vamos a um exemplo fictício para facilitar o entendimento: o conjunto musical de uma congregação escolhe determinada música para cantar, e então aplicamos sua escolha as questões elencadas acima:
- A primeira pergunta: “para cantar onde?”; e a resposta será: “na igreja”;
- A segunda pergunta: “qual (ou o quê)?”; e a resposta será: “Aquarela, do Toquinho”;
- A terceira pergunta: “quando?”; e a resposta será: “próximo domingo à noite”;
- A quarta pergunta: “por qual motivo (ou porquê)?”; e a resposta será: “para louvar a Deus”;

Se você achou que alguma coisa aí não está certa, então você já tem um bom parâmetro do que será pecado quando falarmos de música na igreja. Para melhores definições vamos nos aprofundar um pouco mais em cada parte.
Não é toda música que podemos cantar na igreja
Como já dissemos, e todos já sabem, há uma grande diversidade de músicas, mas todas, sem exceção, são feitas para fins predeterminados. O músico ou compositor, ao criá-las, tem uma ideia específica da finalidade dela e isto, por si só, já nos diz muito. Por exemplo, uma música que foi criada para ser tocada em um bar não deve ser tocada em uma igreja. Isto porque muito provavelmente ela não é adequada para tal.
Decerto que muitas vezes não é tão simples relacionarmos sua finalidade e seu uso, por qualquer parte e tempo, pode desvia-la deste propósito inicial. A dificuldade de sabermos a história de cada uma é um complicador, mas podemos ter uma ideia geral analisando as informações das músicas, compositores, interpretes, gravadoras e, principalmente, sua letra. Uma música historicamente carregada de pontos negativos dificilmente será adequada para um ambiente de culto.
Aqui podemos mencionar rapidamente a questão de ritmos; particularmente não acho que ritmos criados para meios específicos no passado possa hoje ser tocado na igreja, ao menos não em todas as reuniões. Talvez possamos abrir uma exceção dependendo da finalidade e você poderá entender isto um pouco melhor mais adiante.

Não é toda música que serve para tocar na igreja
Mesmo que uma música tenha sido feita para um determinado objetivo não impede que a utilizemos em outro, assim encontraremos músicas que poderiam ser tocadas na igreja mesmo que tenham sido feitas para outra finalidade. Temos então que cuidar para que as músicas que serão tocadas na igreja não venham a ser contrárias a Escritura e nem ao objetivo do culto. Para citar um exemplo, a música “Cidadão”, do compositor Lúcio Barbosa, que ficou muito conhecida na interpretação do cantor Zé Geraldo, apesar de sua bela mensagem, não é uma música adequada para ser tocada na igreja.
Outro exemplo que podemos citar são as “Marchas Nupciais”. Uma tinha o propósito de ser o ápice de uma tragédia, com mortes e tudo o mais, e a outra para uma comédia (alguns podem ver como uma sátira) de Shakespeare; mas hoje são usadas tranquilamente nas igrejas na celebração de casamentos (lógico).
Agora tudo pareceu ficar confuso, certo?
Toquei nestes pontos apenas para mostrar que apesar da finalidade para a qual a música foi feita haverá exceções dependendo do objetivo da reunião e também para desarmar um pouco aqueles que são muito rápidos em dizer o que não pode.
Entretanto ainda é nossa responsabilidade estarmos cientes do que estamos escolhendo para não estarmos errando nem induzindo outros a errar.

Não é toda música que serve para cantar em qualquer dia na igreja
Primeiro ponto aqui é uma questão de prazo. Para cantar uma música na igreja o conjunto deveria ensaiar bem; deixar todo mundo dentro do tempo; acertar os pormenores. Assim o prazo deve ser adequado para ser feito de forma que todos possam compartilhar do empenho do conjunto em fazer o melhor para Deus.
Temos percebido uma péssima cultura se espalhar no meio cristão evangélico de que “Deus aceita tudo, se feito de coração” e o que vemos na verdade é um monte de desculpas para justificar a falta de compromisso por parte de alguns. Algumas vezes realmente há falta de tempo devido as demandas do cotidiano de cada um e estes se esforçam, deixando seus descansos, para atender a necessidade da obra do Senhor, e seu esforço é notado e erros são relevados por todos. Não são destes que falo, mas daqueles que se acostumaram com isso e utilizam deste artifício para fazer um trabalho medíocre para Deus. Algo muito aquém do que podem. Falo daqueles que podendo fazer mais e melhor se omitem utilizando-se de “desculpas verdadeiras” e nem fazem o que devem fazer, nem permitem que outros o façam. Agora me direciono especificamente a estes: se sua “preocupação” é que não tem quem faça, deixe de se preocupar. A obra é de Cristo e é Ele mesmo quem levanta e capacita pessoas para fazer Sua obra. Na pior das hipóteses a congregação vai passar um tempo cantando a capella e isto não afetará de forma alguma o bom andamento do culto e da comunhão dos irmãos entre si e com Deus.
O ponto seguinte é que a letra e melodia devem ser adequadas ao momento. Todos vivemos os mesmos dias, mas ao mesmo tempo vivemos dias diferentes. Para uns o dia é muito cansativo, para outros, muito agitado, e assim vai. Quando cada pessoa vai ao templo carrega em si uma predisposição há algo, que já fora estabelecido pela comunidade em relação ao objetivo do culto daquele dia, e é extremamente frustrante quando acontece algo inesperado e que não agrada. Vamos ao exemplo: praticamente todas as igrejas cristãs evangélicas tem ao menos um culto por semana especialmente voltado à oração, isto é, todos aqueles que congregam naquela localidade saem de seus lares depois de um árduo dia de trabalho predispostos a passar algum tempo em oração e se preparam para isso. Ao chegar ao local da reunião, entretanto, o que acontece é um show de Heavy Metal. Certamente muitos ficaram decepcionados e escandalizados.
Desculpem o exemplo extremo, mas queria ser o mais impactante possível.

Não é toda música que serve para cantar em qualquer culto na igreja
As músicas que serão cantadas na igreja devem ser adequadas a ocasião. Se o culto é de louvor a Deus, então as músicas devem ser de louvores a Deus. Parece óbvio, mas infelizmente não tem sido assim. Reuniões chamadas de “louvor e adoração” não tem mais objetivo claro. Tem-se cantado músicas antropocêntricas ou pior que isso, músicas que adoram um sujeito oculto ou falsos deuses. Muitas dessas músicas inculcam nos ouvintes doutrinas que colocam a Deus como servo do homem, e não o contrário; músicas que deturpam as doutrinas bíblicas; que transmitem falsos ensinos.
Mas, voltando ao assunto, o objetivo do culto é importante na escolha das músicas.
Se o culto é um “louvorzão” para atrair jovens a ouvir a Palavra de Deus, ou mesmo para momentos de descontração para aqueles que congregam naquela localidade, então se deixa o objetivo claro e escolhe-se as músicas com um pouco mais de flexibilidade para atender o fim desejado. Aqui pode ser incluído uma boa diversidade de ritmos, mas nunca de letras. E isto nos leva ao principal ponto desta postagem.

A letra é o mais importante da música
Nosso objetivo nesta série de postagens é alertar para os perigos que as músicas trazem em suas letras. As músicas são o meio mais simples de incutir mensagens no subconsciente. “A propagação dos padrões sonoros rítmicos pelo tecido cerebral provoca um fluxo de sinais neurais que oscilam com os “relógios” naturais do cérebro, recebem informação do ambiente e controlam as funções do corpo e as respostas comportamentais” (WEIGSDING & BARBOSA). Levando isto em consideração nem mesmo podemos ouvir qualquer música.
 Deixe-me fazer as músicas de uma nação, e eu não me importo com quem faz as leis”. Esta frase é atribuída ao político escocês Andrew Fletcher e nos mostra o poder de influência que há na música, de sorte que temos que ter constante cuidado com aquilo que ouvimos. Se vocês acompanham nossas postagens já sabem do que falo, se ainda não leram, a leitura pode lhes ser interessante. Assim, se nem sequer podemos ouvir qualquer uma, imaginem se podemos leva-las para dentro das igrejas.
Infelizmente o que vemos nos cultos são músicas com letras inadequadas, que causam má compreensão da verdade, que causam confusão ou distorcem as Escrituras.
Espero em Deus que esta postagem soe como um chamado a repensar como estamos fazendo os momentos de louvor e corrigir eventuais equívocos que estejamos cometendo.

O cristão e as músicas seculares
Uma das perguntas que mais é feita sobre o assunto aqui exposto é se o cristão pode ouvir ou produzir música secular. A resposta a perguntas difíceis é sempre uma série de “dependes”, mas vamos tentar ser objetivos e claros. Novamente, aqui é expressa minha opinião sobre o assunto.
De forma bem simplista não há problema em ouvir ou produzir música secular, mas tal visão, neste assunto, não é suficiente para resolvermos o problema. Então vamos aprofundar-nos um pouco. tratando primeiro da questão de ouvir, se você as entende bem e consegue filtrar aquelas que são saudáveis das que não são, então não há problema ouvi-las nos seus momentos de descontração ou enquanto estiver se deslocando para o trabalho ou escola (se bem que há maneiras melhores, mesmo que não fáceis, de aproveitar esse tempo e oportunidades). Mas se você tem alguma dificuldade de interpretação, então é melhor não se arriscar e ouvir apenas músicas já reconhecidas. Sendo ainda mais precavido, ouvir apenas as músicas sacras. Se precisarem de algumas indicações posso lhes dar algumas (meio antigas, mas...): Grupo Logos, Sérgio Lopes, Embaixadores de Sião, Arautos do Rei, Leonardo Gonçalves, Afonso Augusto, Grupo Elo, Asaph Borba, Ozéias de Paula, Armando Filho, Altos Louvores, Luiz de Carvalho; são alguns dos vários que poderiam ser indicados mas, mesmo entre esses, pode ser necessário remover algumas músicas da playlist. Se quiser ser ainda mais cauteloso então fiquem com os hinários (Salmos & Hinos, Cantor Cristão ou Harpa Cristã). Caso mesmo assim queira ser mais eclético então vá com os clássicos ou tenha muito cuidado. Você talvez nem imagine o que há escondido por aí (sem querer causar terror, mas dê uma olhada em nossa série e tire suas próprias conclusões).
Em si tratando de estar em locais onde você não tem o controle do que toca, aproveite para analisar o que ouve. Certamente você vai se convencer de que boas escolhas também nesta área vão melhorar bastante sua vida.
Tratando da questão de produzir, como dissemos, a produção em si não é um problema. O problema aparece quando questionamos em que meio essas músicas se espalharão. O cantor por vezes terá que fazer shows em meios que culturalmente, para nós protestantes, não são muito próprios. Então o cantor abriria mão dos shows, que é de onde vem a maior receita? Irá apenas compor a música e vender para um interprete? Estará bem com o uso que sua produção está tendo? Estas são questões que cada um tem que decidir por si, afinal, “... cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm. 14:12).

Quais músicas devemos cantar na igreja
Conforme a orientação bíblica as músicas a serem cantadas no templo devem seguir alguns critérios, logo não podem ser quaisquer uma.
Com exceção de alguns momentos ou “cultos” específicos, onde músicas coerentes com os temas adotados podem ser utilizadas, a regra geral deve ser o que está orientado nas Escrituras. Vamos ver alguns textos e fecharei a postagem com o mais esclarecedor deles:
- “Naquele dia, foi que Davi encarregou, pela primeira vez, a Asafe e a seus irmãos de celebrarem com hinos o SENHOR.” (I Cr. 16:7) [Hino = na liturgia cristã, cântico de louvor a Deus. Fonte: Houaiss);
- “E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR.” (Sl. 40:3);
- “Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome.” (Sl. 100:4);
- “Agora, será exaltada a minha cabeça acima dos inimigos que me cercam. No seu tabernáculo, oferecerei sacrifício de júbilo; cantarei e salmodiarei ao SENHOR.” (Sl. 27:6);
- “Salmodiai ao SENHOR, vós que sois seus santos, e dai graças ao seu santo nome.” (Sl. 30:4);
Em resumo as músicas que devemos cantar são músicas que engrandeçam o nome de Deus; músicas Cristocêntricas!
Nossa confissão de fé traz, em seu Capítulo 23, § I – “... a forma aceitável de cultuar o Deus verdadeiro é instituída por Ele mesmo e, portanto, delimitada por sua própria vontade revelada,2 de modo que Ele não pode ser cultuado segundo as imaginações e invenções humanas,3 nem segundo as sugestões de Satanás, sob alguma representação visível, ou por qualquer outra forma não prescrita na Sagrada Escritura.4
2 Dt 12.32; Jo 4. 20- 24; Ex 20.4-6 | 3 Mt I5.9 | 4 Êx 20. 4-6; Mt 4.10.

Para encerrarmos precisamos ainda mencionar algo extremamente importante. Podemos ler na Pergunta I do Breve Catecismo de Westminster que “o fim principal do homem é glorificar a Deus”, logo, se as músicas que ouvimos, compomos e cantamos não o fazem, então não são recomendas. Este pensamento é condizente com o texto de I Co. 10:31 que diz que devemos fazer todas as coisas para a glória de Deus. Isto implica dizer que nossa vida é um culto contínuo a Deus e, por isso, “Rogo-vos, ... irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm. 12:1-2), tomando aqui emprestadas as palavras de São Paulo.

Agora, depois desta breve introdução à música no meio cristão, os convido para nos acompanhar na próxima postagem da série “Cuidado com o que ouve” onde traremos a análise de uma música “evangélica” (desculpem, mas não gosto de usar o termo “gospel”).

Esperamos que tenham compreendido, mas, caso algum ponto não tenha ficado claro, deixem suas dúvidas, críticas, sugestões e opiniões nos comentários e, se for proveitoso para todos, responderei ou abordaremos em uma próxima postagem, se Deus assim nos permitir. Até a próxima!

"Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração." (Cl 3:16)
P.S.: Agradecemos ao Presbítero e seminarista Melquesedeque Bezerra pela gentiliza em revisar e sugerir ajustes no texto.
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.
Visitem nosso blog: http://sepade.blogspot.com
Fontes:
- A verdade por trás da marcha nupcial. casamentos.com.br. Disponível em: https://www.casamentos.com.br/forum/a-verdade-por-tras-da-marcha-nupcial--t179678. Acesso em: 15/10/2019;
- CLEMENTE, Helio. Documentos da Reforma. Breve Catecismo Comentado. 1ª Edição, 2014;
- Do culto religioso e do dia do repouso. Declaração de Fé da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil. Fev/2015.
- WEIGSDING, Jessica Adriane & BARBOSA, Carmem Patrícia. A influência da música no comportamento humano. Disponível em: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/ArqMudi/article/viewFile/25137/pdf_59. Acesso em: 15/10/2019;

domingo, 15 de setembro de 2019

📘 Deus da paz ou Deus da guerra? 📖

» Série: Aparentes Contradições da Bíblia (15 de setembro de 2019)

“Deus é Deus...
... da paz ...
(Rm 15:33) E o Deus da paz seja com todos vós. Amém.
(Is 2:4) Ele exercerá o seu juízo entre as nações, e repreenderá a muitos povos. Estes converterão as suas espadas em arados e as suas lanças em podadeiras. Não levantará espada nação contra nação, nem aprenderão mais a guerra. [ECA – Edição Contemporânea de Almeida]

... ou da guerra? ...
(Ex 15:3) O Senhor é um guerreiro; o Senhor é o seu nome.
(Jl 3:9-10) Proclamai isto entre as nações: Santificai uma guerra! (...) Forjai espadas das relhas dos vossos arados, e lanças da vossas podadeiras.”

Obs.: O texto entre as aspas foi transcrito conforme chegou até nós.



O que digo? Bom, podemos mostrar que aqui não há contradição em três aspectos distintos. Vamos direto a elas:

1. Ausência de texto
Apesar de Nosso Amigo sempre indicar textos já vimos que muitos deles são retirados do contexto, tem partes cortadas para alterar seu significado ou são mal interpretados. Por exemplo, nesta ele cita texto que diz claramente “Deus da paz” mas, ao citar os textos contrários, não cita nenhum que tenha “Deus da guerra”. Então ele pega textos que falam sobre “guerra” ou “guerreiro” e dá a eles um significado que eles não têm. Há decerto alguns poucos textos onde Deus ordena guerras e cada uma delas tem um contexto próprio. Geralmente estas fazem parte do Seu juízo. Por exemplo, as guerras travadas pelo povo que foi libertado do Egito para adentrar na terra prometida. Ele usou aquelas guerras para cumprir Sua promessa e ao mesmo tempo levar juízo as pessoas que viviam naquelas terras, cuja maldade havia chegado ao limite (Gn. 15:16 e Dt. 9:5). O contrário também ocorreu. Deus utilizou de guerras também para punir o povo de Israel sempre que estes se desviavam do caminho do Senhor e passavam a adorar outros deuses.
Vamos fazer um pequeno exercício: você se considera uma pessoa da paz ou conhece alguém que se considere como tal? Se, por acaso, houvesse uma guerra em que outro país tentaria invadir o seu para tomar as terras e levar o povo como escravo, você lutaria na guerra? Ou seja, você se tornaria um combatente se nenhuma negociação tivesse êxito? Ou simplesmente entregaria sua família para serem usadas como os invasores bem quisessem?
Assim, pela ausência de textos dizendo que Deus era tomado como o “Deus da guerra”, mas sim como o Deus que não se omite da guerra, este ponto não pode ser tido como uma contradição das escrituras.
2. Não são antagônicas
A ideia de que existe uma contradição aqui também parte do pressuposto tomado pelo Nosso Amigo de que as duas coisas são antagônicas, ou seja, não podem acontecer ao mesmo tempo ou são totalmente incompatíveis. Isto só seria verdade se tomássemos “guerra” apenas como luta e “paz” apenas como o fim desta luta. Ainda teríamos que tomar um universo observável limitado e totalmente abstrato. Por exemplo, podemos usar este sentido em: a guerra na Síria acontece desde 2011 e desde então o país não teve paz. Mas não é possível afirmarmos que não haja ninguém naquele lugar que não tem momentos de paz, mesmo muitas outras pessoas estando em guerra. Também a guerra que acontece lá não retira a paz em outros lugares do globo.
Também podemos imaginar que possa haver pessoas que só estão em paz quando estão guerreando. Neste sentido tomamos “paz” como um estado de espírito. Por outro lado, há pessoas que não estão em paz mesmo em países onde não há nenhum conflito armado. Logo não é possível tomar os dois estados (guerra e paz) como sendo totalmente opostos e que um só exista na ausência do outro.
Aqui devemos salientar um erro no entendimento do Nosso Amigo em relação a quem é o responsável pelas guerras (retomamos este ponto no próximo item), mas, caso fosse possível creditar alguma guerra a Deus, também não será possível creditar a paz dos outros lugares a Ele? Neste aspecto, por não serem coisas opostas, não há contradição nas Escrituras.

3. Outros deuses da guerra e da paz
Olhando para diversas culturas espalhadas pelo mundo vemos que muitos são os “deuses da guerra e da paz” e que há bem poucos deuses específicos da paz. Fazendo uma busca na Web encontramos “deuses da paz” em apenas três culturas: gregos (Irene), romanos (Pax [literalmente paz em português]) e nórdicos (Forseti). Todas as demais pesquisadas os “deuses da paz” eram também os “deuses da guerra”. Isto porque era de entendimento comum que os “deuses da guerra” eram aqueles que ajudavam os homens a vencer suas batalhas e assim, como vencedores, teriam então direito a paz. Aos perdedores o que sobrava era o sofrimento e a servidão, logo, os perdedores não teriam paz. Neste aspecto podemos tomar, sem contradição nas Escrituras, Deus como o “da paz” pois Ele é vencedor em todas as batalhas. “Teu, SENHOR, é o poder, a grandeza, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu, SENHOR, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos.” (I Cr. 29:11).

Conclusão
É necessário ainda entendermos que a paz que Deus nos proporciona enquanto estamos no mundo é um estado de espírito (trataremos mais de assunto na nossa série sobre o Fruto e os Dons do Espírito) e no mundo vindouro será completa e perpétua.

Assim encerramos mais esta postagem, crendo que tenha ficado claro que não há contradições entre os textos apresentados. Os aguardamos nas próximas postagens.

"Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize." (Jo. 14:27).
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

♪ Eduardo e Mônica, por Legião Urbana ♫

- Cuidado com o que ouve! (26 de agosto de 2019)

A música desta postagem é atendendo a pedido de nossa querida irmã Márcia, do canal Márcia Souza (https://www.youtube.com/channel/UCtQ67_NkF3pob-8ILw0w_zA), [se inscrevam e deem uma força, ela faz um trabalho incrível]. As músicas do Renato Russo são músicas com muitas ideias. São letras muito bem trabalhadas, assim é bem difícil escrever sobre elas. Em suas músicas há muitas mensagens, sobretudo implícitas. Nossa análise desta música terá que ser um pouco diferente das demais. Vamos abordar algumas partes da música (até porque esta é enorme) e fazer uma análise geral e assim mostrar porque é necessário ter “Cuidado com o que ouve”:
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1. Quem um dia irá dizer
2. Que existe razão
3. Nas coisas feitas pelo coração?
4. E quem irá dizer
5. Que não existe razão?
6. Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
7. Ficou deitado e viu que horas eram
8. Enquanto Mônica tomava um conhaque
9. No outro canto da cidade, como eles disseram
10. Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
11. E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
12. Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
13. "Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir"
14. Festa estranha, com gente esquisita
15. "Eu não 'to legal, não aguento mais birita"
16. E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
17. Sobre o boyzinho que tentava impressionar
18. E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
19. "É quase duas, eu vou me ferrar"
20. Eduardo e Mônica trocaram telefone
21. Depois telefonaram e decidiram se encontrar
22. O Eduardo sugeriu uma lanchonete
23. Mas a Mônica queria ver o filme do Godard
24. Se encontraram então no parque da cidade
25. A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
26. O Eduardo achou estranho, e melhor não comentar
27. Mas a menina tinha tinta no cabelo
28. Eduardo e Mônica eram nada parecidos
29. Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
30. Ela fazia Medicina e falava alemão
31. E ele ainda nas aulinhas de inglês
32. Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
33. De Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
34. E o Eduardo gostava de novela
35. E jogava futebol de botão com seu avô
36. Ela falava coisas sobre o Planalto Central
37. Também magia e meditação
38. E o Eduardo ainda tava no esquema "escola, cinema, clube, televisão"
39. E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
40. Uma vontade de se ver
41. E os dois se encontravam todo dia
42. E a vontade crescia, como tinha de ser
43. Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
44. Teatro, artesanato, e foram viajar
45. A Mônica explicava pro Eduardo
46. Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar
47. Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
48. E decidiu trabalhar
49. E ela se formou no mesmo mês
50. Que ele passou no vestibular
51. E os dois comemoraram juntos
52. E também brigaram juntos, muitas vezes depois
53. E todo mundo diz que ele completa ela
54. E vice-versa, que nem feijão com arroz
55. Construíram uma casa há uns dois anos atrás
56. Mais ou menos quando os gêmeos vieram
57. Batalharam grana, seguraram legal
58. A barra mais pesada que tiveram
59. Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
60. E a nossa amizade dá saudade no verão
61. Só que nessas férias, não vão viajar
62. Porque o filhinho do Eduardo 'tá de recuperação
63. Ah! Ahaan!
64. E quem um dia irá dizer
65. Que existe razão
66. Nas coisas feitas pelo coração?
67. E quem irá dizer
68. Que não existe razão!
Fonte: LyricFind
Compositores: Renato Russo
Letra de Eduardo e Mônica © Ubc

Como disse no início, esta música deve ser tratada um pouco diferente das outras, então deixaremos os comentários gerais para o final. Vamos procurar entender o que algumas partes trazem “escondidas”:
A. As linhas “1” a “5” e “64” a “68” que fazem parte da abertura e fechamento da música não por acaso são exatamente iguais, e também não por acaso foram especialmente escolhidas para estarem nestas posições. É cientificamente comprovado que aquilo com que temos contato que estão no início ou final de algo são as que temos mais facilidades de lembrarmos posteriormente e assim estas belas palavras são as que vão ficar na mente da maioria das pessoas que escutarem esta música algumas poucas vezes. Estas palavras cuidadosamente escolhidas impedem que o ouvinte que não tenha o real intuito de estuda-la possa traçar maiores pensamentos sobre o que será e foi dito. Após estas frases de efeito que se auto contrapõem o ouvinte ficará com a impressão de que qualquer coisa que for dita não pode ser questionada; deve aceitar como serão contadas (ou cantadas, rsrsrsrs). Estas frases dão a sensação que muita coisa não pode ser explicada e as que puderem não podem ser tidas como negativas, pois foram feitas baseadas “no coração”. O argumento usado aqui é chamado de “do princípio”. O compositor expõe um princípio que facilmente será aceito como verdade universal e para evitar que seja tomado por falso ele mesmo faz o contraponto deixando o ouvinte sem opção a não ser aceitar o que será dito. Entretanto o que sabemos é que o coração do homem produz apenas o que é mau como pode ser lido em Gn. 6:5; Ec. 9:3; Jr. 17:9; Mt. 15:19; Mc. 7:21-23; Rm. 3:10-12; 7:18. O que então o Renato busca justificar? Após pensar um pouco sobre isso, me pego realmente curioso com o que poderia estar escondido entre estas linhas. Vamos ver o que podemos descobrir;
B. As linhas “6” a “9” e “59” a “62” nos trazem algumas informações importantes. Esta música seria uma história contada por um casal que veio a serem amigos do compositor. Esta informação dá a música um tom de realidade; de verdade; e como tal não deve ser questionada ou ignorada, afinal pode acontecer mais ou menos parecido com qualquer pessoa. Foi muito interessante notar que assim como as palavras escolhidas para abrir e fechar a música tirando do ouvinte o poder argumentativo da razão agora ele faz a mesma coisa, logo após a abertura e logo antes do fechamento, tirando o poder argumentativo da negação. Ao usar um argumento de exemplificação e de prova, colocando-se como testemunha, impede ao ouvinte negar toda a situação ou mesmo a colocar em dúvida. Desta forma a armadilha está armada, e estamos ficando presos nela. Nesta situação só podemos concordar serem normais todas as coisas que nos serão contadas. Aqui há uma falácia: confunde “normal” com “comum”. Já falamos sobre isso na nossa postagem de 20 de janeiro de 2019. Depois que caímos neste laço deixamos de notar algumas coisas, por exemplo, a parte que diz: “acordar e não querer levantar”, nem mesmo pensaremos se era cedo ou tarde. Se for tarde, não podemos criticar o rapaz que levanta tarde da cama? Não o podemos criticar seu ócio? Se for cedo, não podemos criticar a moça que consome bebida alcoólica fora de hora? Após sermos minados por seus argumentos sequer percebemos isso;
C. Nas linhas “10” a “20” há outra sequência que também visa impedir qualquer argumentação contrária a música. Ao dizer que “Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer” usa um argumento de causa e consequência além da força e da vontade humana: o destino. E contra o destino o que podemos fazer; nós, meros mortais? Só resta curvarmo-nos e aceitarmos. No entanto apelar para o destino é uma faca de dois gumes. Ao fazê-lo ele estava certo de que o ouvinte não poderia mais argumentar. Mas, se tal força invisível e da qual o homem não tem como escapar pode ser aceita, então é certo que um alguém que tem controle de tudo e já determinou tudo quanto há de acontecer também exista! Destino é como é chamada a soberania de Deus por àqueles que não O conhecem. E seguindo a determinação divina descrita por São Paulo em sua carta aos Romanos de que “Deus os entregou a paixões infames” (Rm. 1:26) por “não o terem reconhecido como Deus” (Rm. 1:21) o Eduardo, no afã de impressionar a Mônica, em uma festa com pessoas de fora de seu meio, faz coisas inconvenientes, mesmo sabendo que estava se prejudicando. Importante notar o acerto do compositor (mesmo que tenha sido involuntário) de que apesar do destino (ou da soberania de Deus) o homem continua sendo responsável por suas ações e receberá a devida recompensa por suas escolhas (Jó 34:11; Sl. 28:4; 62:12; Pv. 24:12; Is. 59:18; Jr. 17:10; 25:14; 32:19; Ez. 33:22; Os. 12:2; Zc. 1:6; Mt. 16:27; Rm. 2:6; II Co. 5:10; Cl. 3:25; II Tm. 4:14; I Pe. 1:17; Ap. 2:23; 18:6; 20:12; 22:12). O Eduardo fez algumas coisas que sabia errada para conseguir impressionar a Mônica e pegar seu telefone. Será que os fins justificam os meios? O livro de Provérbios diz que “Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.” (Pv 14:12). Tudo que fazemos tem consequências. Vamos acompanhar a música para ver o que acontecerá;
D. Nas linhas “21” a “27” vemos o começo do relacionamento deles. O ponto importante aqui está na linha “23”. A Mônica começa a influenciar o Eduardo e logo no primeiro encontro o convence a ir assistir um filme do diretor Godard. Não são muitos que o conhecem então vou resumir um pouco aqui. Jean-Luc Godard era um cineasta francês, anarquista e militante marxista. Em seus filmes buscava elevar o comunismo e, seguindo o ideal de Marx, buscava mostrar, como situações normais, atos condenáveis pelos valores judaico-cristãos. Alguns de seus filmes inclusive foram proibidos de serem transmitidos em vários países. Qualquer conservador o evitará. Para alguém como o Eduardo que ainda está em formação intelectual a influência da Mônica que, por ser de 5 a 8 anos mais velha (eu acredito que a ideia seria ser de 6 anos essa diferença), será determinante;
E. Das linhas “28” e “42” temos mais informações sobre o relacionamento deles e sobre suas personalidades. A primeira informação que temos é que eram muito diferentes um do outro. Não ter afinidades é um grande problema em um relacionamento. Qualquer relacionamento deste tipo é muito mais difícil. A falta de afinidade exigirá ainda mais renúncias de ambos. A informação seguinte é que a Mônica era de Leão e o Eduardo tinha 16 anos. Pode, à primeira vista, parecer uma informação irrelevante, mas não é. Apesar dos astrólogos quase nunca concordarem algumas coisas dos signos são características aceitas por quaisquer deles: as pessoas do signo de Leão são idealistas e independentes, gostam de aparecer e de dominar os ambientes que frequentam e não gostam de receber críticas. São vaidosos, gostam de luxar e são autoritários. Um adolescente de 16 anos será facilmente dominado por uma pessoa com estas características. Este relacionamento então viverá constantemente em uma inversão de responsabilidades, o que poderá ser frustrante para ambos. Algum dia, se Deus permitir, falaremos mais sobre relacionamentos. Por enquanto vamos ficar apenas com estas certezas. As demais informações sobre a Mônica mostram suas preferências com referências góticas. Manuel Bandeira e a banda Bauhaus com seus poemas e músicas melancólicas, Van Gogh com suas pinturas sempre retratando a tristeza, o psicodelismo e loucura dos Mutantes (já abordamos aqui uma música da Rita Lee, vocalista da banda, em 30 de outubro de 2018), Caetano Veloso, que durante o regime militar,  por diversas críticas ao governo, começar a se apresentar vestido de mulher e se dizer “andrógino” e abertamente defender o socialismo (ele ainda defende), foi exilado. Escolheu a Inglaterra (não a URSS, China ou Cuba, então países comunistas frequentemente visitados por brasileiros) e lá compôs músicas melancólicas. E, para terminar a lista das preferências da Mônica, Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, poeta francês e anarquista, também defensor do comunismo, mesmo tendo sofrido abusos por um grupo comunista, continuou fiel a sua ideologia (quanta escravidão e cegueira). Mônica ainda era praticante de religiões com viés espírita, meditação e magia. Também influenciava o Eduardo nas preferências políticas. Em contraste,  ele ainda vivia um período de “inocência”. Mesmo com tanta diferença entre eles ainda assim se apaixonaram e decidiram levar o relacionamento adiante. Já escrevemos, na postagem de 21 de setembro de 2016, sobre a diferença entre amor e paixão;
F. Das linhas “43” a “54” vemos a busca deles por afinidades para que o relacionamento dê certo. Com a Mônica sempre o conduzindo e ensinando ele acabou se tornando o que ela queria que se tornasse. Seu caminho agora era igual ao dela. Ainda jovem passou a fazer uso constante de álcool. Comemoram “algumas vitórias”, e mesmo ele buscando sua posição no relacionamento, as brigas, inevitavelmente, aconteciam constantemente. Mas, mesmo assim, insistiram no relacionamento, o que é louvável;
G. Das linhas “55” a “58” nos é mostrado os acontecimentos antes do fim do relato. Foram morar juntos (não podemos afirmar que casaram, mas tendo em vista as crenças que agora compartilhavam, podemos supor que não casaram) em uma casa que construíram devido ao “repentino” aumento da família. Com o nascimento dos gêmeos (que aliás seriam um casal) vieram algumas dificuldades, mas conseguiram com muita luta, supera-las.
Fazendo uma análise geral da música não é de surpreender que tanta gente no Brasil ainda acredite que o Comunismo/Socialismo é uma boa opção. A forte empatia que a letra transmite ao ouvinte é o que há de mais perigoso nesta música. Como qualquer pessoa pode se identificar com a estória contada, muita coisa acaba sendo assimilada sem que percebamos. Muitos adultos cresceram ouvindo essas músicas e devido à falta de conhecimento, suas personalidades em formação e a falta de uma boa base bíblica, foram alvos fáceis. Infelizmente a mudança de pensamento e personalidade não é fácil. Somente o Espírito Santo é capaz de tal transformação. Somente o sangue do Cristo, vertido na cruz do calvário, é capaz de quebrar as correntes que lhes prendem e os curar da cegueira em que se encontram.
Vamos ficando por aqui e tenham muito CUIDADO COM O QUE OUVEM!
P.S.: Se tiverem alguma música que queiram entende-la melhor, deixe seu título e intérprete nos comentários. Podem ser músicas seculares ou gospel. Faremos o possível para atendê-los.
Que Deus nos dê sabedoria e renove nosso entendimento.
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm. 12:2)
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.

Fontes:
- Caetano Veloso. Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caetano_Veloso. Acesso em: 26/08/2019;
- Ícone da Tropicália e MPB, Caetano Veloso foi preso e viveu no exílio na ditadura. O Globo. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/icone-da-tropicalia-mpb-caetano-veloso-foi-preso-viveu-no-exilio-na-ditadura-21611687. Acesso em 26/08/2019;
- Jean-Luc Godard. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Jean-Luc_Godard. Acesso em: 26/08/2019;
- O CINEMA DE JEAN-LUC GODARD. Disponível em: http://obviousmag.org/camera_obscura/2015/12/o-cinema-de-jean-luc-godard.html. Acesso em: 26/08/2019;
- Talento, inovação, ambiguidade sexual, homoerotismo: Caetano Veloso. Mundo de Música. Disponível em: http://mundodemusicas.com/talento-inovacao-ambiguidade-sexual-homoerotismo-caetano-veloso/. Acesso em: 26/08/2019;