» Fruto e Dons do Espírito Santo (20 de agosto de 2019)
Iniciando esta nova série de postagens os convidamos a aprofundarmo-nos nestes assuntos que em parte é tão ignorado (ou pouco estudado) e de outra é tão conhecido e ainda assim tão polêmico. Nossa pretensão é, como sempre, expor o assunto a Luz das Escrituras Sagradas. Por alguns pontos serem muito polêmicos, e já há muito tratado de forma descompromissada e manipulada, certamente alguns discordarão de algumas coisas que serão escritas ao longo desta série, mas peço que analisem bem, antes de as rejeitar definitivamente. Estejam certos que nada aqui é feito com leviandade ou para causar ainda mais discussão sobre o assunto, ao contrário, nosso objetivo será sempre o esclarecimento da forma mais simples que pudermos.
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Nesta postagem introdutória vamos nos ater a forma destas postagens e alguns aspectos gerais dos pontos em questão.
As postagens serão alternadas entre os dois temas, isto é, em uma postagem falaremos sobre um dos aspectos do Fruto do Espírito Santo e em outra sobre um dos Dons, salvo os pontos de maior polêmica ou extensão que serão divididos em mais de uma postagem. A ordem adotada será a alfabética e os textos que contém as listas que serão utilizadas são:
a. Para o Fruto: Rm. 12:9-18; Gl. 5:22; Cl. 3:12-13; Tt. 1:8;
b. Para os Dons: Rm. 12:6-8; I Co. 12:8-10, 28 e Ef. 4:11.
Você deve ter notado que tratei como “O Fruto do Espírito” apesar de corriqueiramente tratarmos como “Os Frutos do Espírito”, como se este fossem muitos; saiba, no entanto, que é apenas um, ou seja, realmente é “O Fruto do Espírito” e este traz todas as qualidades que habitualmente tratamos com se cada uma fosse um fruto distinto. Trataremos então cada qualidade como “virtude”. Os Dons do Espírito, entretanto, são individuais e, apesar disso, pode acontecer que, aparentemente, algum salvo não apresente nenhum deles e, que outros, mais de um deles. Os Dons do Espírito não são parâmetros para salvação como é possível lermos em Mt. 7:15-23. Julgar se uma pessoa é salva olhando para os dons que apresenta é o mesmo que dizer se uma árvore é boa olhando para um ninho que algum pássaro eventualmente tenha feito em seus galhos. Tal árvore pode não ter nem mesmo folhas, quanto mais fruto e, sem este, não é possível que seja salvo (conforme Sl. 1:3-6; Jr. 6:19; 12:13; 17:8-10; 21:14; 32:19; Ez. 19:12; Mq. 7:13; Mt. 3:8-10; 7:15-23; 12:33; 21:19-20, 43; Lc. 3:8-9; 6:43-45; 13:6-9; Jo. 15:2-6; Rm. 6:22-23).
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Continuísmo e Cessacionismo – uma nova proposta
Os cristãos hoje, em se tratando do assunto dos dons, estão “divididos” em grupos. Oficialmente só há os Continuístas e Cessacionistas, mas hoje há uma variação tão grande de pensamentos nestes grupos que apenas estas duas não são mais suficientes para um bom entendimento. Aqui vamos, como proposta, tratar os grupos a partir de uma nova classificação. Pode ser que você não concorde com toda a descrição de cada um deles, mas procuramos generalizar o máximo possível para que todos possam, em maior ou menor proximidade, conseguir se identificar, novamente, por proximidade. A proposta então é:
I. Hipercontinuístas: acreditam que todos os dons são miraculosos e que hoje são mais comuns que na época dos apóstolos. Sempre que alguém é batizado com o Espírito Santo obrigatoriamente têm que falar em uma língua estranha e que sempre que alguém exerce algum dom é porque foi batizado pelo Espírito Santo. Como o falar em línguas é obrigatório como selo do batismo com o Espírito Santo àqueles que não falarem, ao menos uma vez na vida, não serão salvos, entretanto o falar não é garantia de salvação. Atribuem a quantidade de dons de uma pessoa a sua santidade, isto é, quanto mais santo, mais dons lhe será dado e acreditam que uma vez tendo recebido o dom não pode perde-lo exceto ao se desviar do evangelho. É comum manifestações de dons em quaisquer circunstâncias. Tratam os grupos cessacionistas como hereges;
II. Continuístas: Não fazem distinção entre dons naturais e miraculosos e creem que todos continuam da mesma forma como eram nos dias dos apóstolos. Acreditam que sempre que alguém for batizado com o Espírito Santo fará uso de algum dos dons sendo o falar em línguas o mais comum. Quem não recebe nenhum dom durante sua vida não será salvo, pois não recebeu o Espírito Santo. Pode haver algumas raras exceções como na conversão logo anterior a morte. Culto sem manifestação de dons é um culto onde o Espírito Santo não se fez presente;
III. Semicontinuístas: Fazem distinção entre os dons naturais e miraculosos, mas acreditam que todos ainda estão disponíveis e são dados por Deus, seja por milagre, seja por capacitação, e que qualquer deles surge em momentos propícios para qualquer pessoa. A apresentação do dom é sinal de batismo com o Espírito Santo, mas não é necessário haver manifestação pública de algum deles para que o indivíduo seja salvo e que sua manifestação não é sinal de salvação. Os dons miraculosos aparecem com frequência, especialmente nos cultos;
IV. Semicessacionistas: A diferença entre estes e os semicontinuístas é que estes acreditam que algum(ns) dom(ns) não existe(m) mais, ou seja, cessou(aram) e que a manifestação dos dons miraculosos não é frequente. Não há relação entre os dons miraculosos e batismo com o Espírito Santo;
V. Cessacionistas: Acreditam que todos os dons miraculosos se encerraram quando o Cânon das Escrituras foi fechado ou quando os apóstolos faleceram. Para eles o batismo com o Espírito Santo não tem relação com o falar em línguas estranhas ou mesmo com a manifestação de quaisquer dom. Os dons miraculosos podem aparecer em casos extraordinários, sendo assim extremamente raros.
VI. hipercessacionistas: Acreditam que os dons miraculosos cessaram por absoluto após a definição do Cânon das Escrituras ou morte dos apóstolos. Creem que os dons citados por Paulo são dons naturais e os que não são foram citados porque o Cânon das Escrituras ainda não estava fechado. Creem que todas as manifestações miraculosas são obras do diabo e tratam os grupos continuístas como hereges.
Acredito que esta proposta será bem aceita por você, leitor. Deixe nos comentários em qual grupo você se encaixaria (por aproximação, não precisa concordar 100%, mas com a maior parte) nesta nova classificação.
Tratando alguns pontos para defender minha posição
1. Batismo com o Espírito Santo: Um ponto na questão dos dons que é bastante polêmico, mas que não vamos nos aprofundar muito aqui, é de que estes são a evidência do batismo com o Espírito Santo. Esta forma de pensar partiu da má compreensão de duas passagens; uma que está em At. 8:5-25 e a segunda que está em At. 19:1-6. Por causa destes dois textos que tem expressões como “... oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo” e “... impondo-lhes ... as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; ...” passou a ser amplamente ensinado que o batismo com o Espírito Santo é um ato posterior ao arrependimento e antecessor ao recebimento de dons. Entretanto não devemos pegar casos particulares e tratar como gerais. Se estes casos fossem parâmetros de regra geral não é estranho que Lucas, o mesmo que relatou estes eventos, não o tivesse feito anteriormente em momentos com muito mais conversões? Veja, por exemplo, At. 2:41-43 e At. 4:4, onde, no primeiro, cerca de três mil pessoas foram batizadas (com água) e apenas os apóstolos realizavam prodígios e sinais e, no segundo, o número de homens salvos subiu para quase cinco mil. Um relato neste momento, em que a igreja estava começando, de que as pessoas eram batizadas com o Espírito Santo e recebiam dons miraculosos teria um impacto muito mais significativo, não acha?
Voltando para o texto de At. 8:5-25 não lhe é estranho que foi preciso ir Pedro e João, de Jerusalém para Samaria, para que estes pudessem receber o Espírito Santo? As perguntas pra você são: a. Felipe, que pouco depois deste acontecimento foi transladado pelo Espírito Santo, era um dos Apóstolos e, possivelmente, também estava no evento citado em Atos 2, não poderia ter-lhes concedido o Espírito Santo no momento do batismo nas águas? e; b. Não é estranho que não haja relato de dons miraculosos em momentos de conversão de judeus, apenas de gentios?
A generalização de casos particulares nem sempre é possível. Quem fez curso na área de exatas vai saber que mesmo que você consiga induzir, ainda assim poderá dar errado quando deduzir. Resumindo, o erro de pensar que o Batismo no Espírito Santo é posterior a conversão e que o recebimento de dons é evidência disto parte do erro de: a. generalizar casos particulares ou; b. pegar esta generalização e depois aplicar a casos particulares. E, por fim, mesmo que deduzir após induzir esteja correto, não poderia valer para nossos dias e você vai entender o porquê quando da postagem sobre o Apostolado.
2. Dom universal de línguas estranhas: Falaremos mais sobre este ponto quando formos falar desse dom especificamente, mas afirmar que todos os salvos obrigatoriamente têm que falar em línguas estranhas não está correto conforme podemos verificar nos textos de I Co 7:7; 12:6, 11-31.
3. Risco do que se ensina: há um enorme risco no ensinamento errado sobre quaisquer temas e sobre os dons espirituais não poderia ser diferente. Afirmar categoricamente que uma pessoa que não fale em línguas estranhas não será salva é de uma irresponsabilidade sem tamanho; primeiro porque não é bíblico e depois porque pode realmente levar alguns a problemas espirituais e mentais. Não ficaria surpreso se nestes meios houvessem pessoas que “inventam línguas” ou só repetem o que ouvem constantemente apenas para não serem marginalizados na sua comunidade. Dizer que o dom de línguas é pré-requisito para salvação é estar contribuindo para a queda e pecados do outro, daquele que honestamente quer buscar e servir a Deus de todo seu coração. E, sim, da forma que é colocado por alguns, se torna pré-requisito a salvação, assim como para outros grupos a guarda do sábado o é. Algumas comunidades até fazem cursos de falar em línguas estranhas, mas me pergunto qual o propósito disto, pois, a principal finalidade dos dons é a salvação de almas e tais práticas são opostas a isto. Nada de bom sairá do engodo.
Como saber se algum dom não está sendo dado pelo Espírito Santo
Há algumas formas de sabermos se um dom está sendo dado pelo Espírito Santo e aqui exporei as mais gerais, isto é, vale para todos os dons. Nas postagens de cada dom trataremos de pontos mais particulares:
1. A Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, logo nenhum dom dado pelo Espírito Santo será contrário a ela, assim, qualquer palavra ou atitude contrária a sã doutrina não será obra do Espírito Santo;
2. O principal objetivo dos dons é a salvação de almas e a edificação da igreja, logo eles não serão dados fora destes objetivos e para que os alcancem devem ser inteligíveis e verdadeiros (I Co. 14:9, 19; Ef. 5:17; Cl. 2:2);
3. Se um dom está atrapalhando o culto, principalmente a exposição das Escrituras Sagradas, não é dado pelo Espírito Santo. Deus preza pela decência e ordem (I Co. 14:40) portanto qualquer manifestação ou dom que venha a prejudicar ou escandalizar certamente não será por meio do Espírito Santo;
4. Um pastor ou pregador não tem autoridade para manipular os dons espirituais. Os dons são distribuídos pelo Espírito Santo (I Co. 12:11). Se colocar como despenseiro do dom de línguas é limitar e minimizar a ação do Espírito Santo;
5. Os dons também não são meros frutos do pensamento do homem. Nem tudo que nos vem à cabeça é proveniente de Deus. Devemos sondar nossos corações e conhecer bem as Escrituras, assim evitaremos atribuir ao Espírito Santo aquilo que é apenas nossa vontade; ou nossa fraqueza.
Esperamos que o pouco que foi tratado aqui de forma introdutória tenha ficado claro, mas, caso negativo, deixem suas dúvidas, críticas ou sugestões nos comentários e, se for julgarmos proveitoso, responderemos ou abordaremos em uma próxima postagem, se Deus assim nos permitir. Na próxima postagem desta série abordaremos o Fruto do Espírito especificamente na virtude da Alegria. Até a próxima!
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. " (Mt. 7:21)
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.
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