segunda-feira, 26 de agosto de 2019

♪ Eduardo e Mônica, por Legião Urbana ♫

- Cuidado com o que ouve! (26 de agosto de 2019)

A música desta postagem é atendendo a pedido de nossa querida irmã Márcia, do canal Márcia Souza (https://www.youtube.com/channel/UCtQ67_NkF3pob-8ILw0w_zA), [se inscrevam e deem uma força, ela faz um trabalho incrível]. As músicas do Renato Russo são músicas com muitas ideias. São letras muito bem trabalhadas, assim é bem difícil escrever sobre elas. Em suas músicas há muitas mensagens, sobretudo implícitas. Nossa análise desta música terá que ser um pouco diferente das demais. Vamos abordar algumas partes da música (até porque esta é enorme) e fazer uma análise geral e assim mostrar porque é necessário ter “Cuidado com o que ouve”:
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1. Quem um dia irá dizer
2. Que existe razão
3. Nas coisas feitas pelo coração?
4. E quem irá dizer
5. Que não existe razão?
6. Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
7. Ficou deitado e viu que horas eram
8. Enquanto Mônica tomava um conhaque
9. No outro canto da cidade, como eles disseram
10. Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
11. E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
12. Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
13. "Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir"
14. Festa estranha, com gente esquisita
15. "Eu não 'to legal, não aguento mais birita"
16. E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
17. Sobre o boyzinho que tentava impressionar
18. E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
19. "É quase duas, eu vou me ferrar"
20. Eduardo e Mônica trocaram telefone
21. Depois telefonaram e decidiram se encontrar
22. O Eduardo sugeriu uma lanchonete
23. Mas a Mônica queria ver o filme do Godard
24. Se encontraram então no parque da cidade
25. A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
26. O Eduardo achou estranho, e melhor não comentar
27. Mas a menina tinha tinta no cabelo
28. Eduardo e Mônica eram nada parecidos
29. Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
30. Ela fazia Medicina e falava alemão
31. E ele ainda nas aulinhas de inglês
32. Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
33. De Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
34. E o Eduardo gostava de novela
35. E jogava futebol de botão com seu avô
36. Ela falava coisas sobre o Planalto Central
37. Também magia e meditação
38. E o Eduardo ainda tava no esquema "escola, cinema, clube, televisão"
39. E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
40. Uma vontade de se ver
41. E os dois se encontravam todo dia
42. E a vontade crescia, como tinha de ser
43. Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
44. Teatro, artesanato, e foram viajar
45. A Mônica explicava pro Eduardo
46. Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar
47. Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
48. E decidiu trabalhar
49. E ela se formou no mesmo mês
50. Que ele passou no vestibular
51. E os dois comemoraram juntos
52. E também brigaram juntos, muitas vezes depois
53. E todo mundo diz que ele completa ela
54. E vice-versa, que nem feijão com arroz
55. Construíram uma casa há uns dois anos atrás
56. Mais ou menos quando os gêmeos vieram
57. Batalharam grana, seguraram legal
58. A barra mais pesada que tiveram
59. Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
60. E a nossa amizade dá saudade no verão
61. Só que nessas férias, não vão viajar
62. Porque o filhinho do Eduardo 'tá de recuperação
63. Ah! Ahaan!
64. E quem um dia irá dizer
65. Que existe razão
66. Nas coisas feitas pelo coração?
67. E quem irá dizer
68. Que não existe razão!
Fonte: LyricFind
Compositores: Renato Russo
Letra de Eduardo e Mônica © Ubc

Como disse no início, esta música deve ser tratada um pouco diferente das outras, então deixaremos os comentários gerais para o final. Vamos procurar entender o que algumas partes trazem “escondidas”:
A. As linhas “1” a “5” e “64” a “68” que fazem parte da abertura e fechamento da música não por acaso são exatamente iguais, e também não por acaso foram especialmente escolhidas para estarem nestas posições. É cientificamente comprovado que aquilo com que temos contato que estão no início ou final de algo são as que temos mais facilidades de lembrarmos posteriormente e assim estas belas palavras são as que vão ficar na mente da maioria das pessoas que escutarem esta música algumas poucas vezes. Estas palavras cuidadosamente escolhidas impedem que o ouvinte que não tenha o real intuito de estuda-la possa traçar maiores pensamentos sobre o que será e foi dito. Após estas frases de efeito que se auto contrapõem o ouvinte ficará com a impressão de que qualquer coisa que for dita não pode ser questionada; deve aceitar como serão contadas (ou cantadas, rsrsrsrs). Estas frases dão a sensação que muita coisa não pode ser explicada e as que puderem não podem ser tidas como negativas, pois foram feitas baseadas “no coração”. O argumento usado aqui é chamado de “do princípio”. O compositor expõe um princípio que facilmente será aceito como verdade universal e para evitar que seja tomado por falso ele mesmo faz o contraponto deixando o ouvinte sem opção a não ser aceitar o que será dito. Entretanto o que sabemos é que o coração do homem produz apenas o que é mau como pode ser lido em Gn. 6:5; Ec. 9:3; Jr. 17:9; Mt. 15:19; Mc. 7:21-23; Rm. 3:10-12; 7:18. O que então o Renato busca justificar? Após pensar um pouco sobre isso, me pego realmente curioso com o que poderia estar escondido entre estas linhas. Vamos ver o que podemos descobrir;
B. As linhas “6” a “9” e “59” a “62” nos trazem algumas informações importantes. Esta música seria uma história contada por um casal que veio a serem amigos do compositor. Esta informação dá a música um tom de realidade; de verdade; e como tal não deve ser questionada ou ignorada, afinal pode acontecer mais ou menos parecido com qualquer pessoa. Foi muito interessante notar que assim como as palavras escolhidas para abrir e fechar a música tirando do ouvinte o poder argumentativo da razão agora ele faz a mesma coisa, logo após a abertura e logo antes do fechamento, tirando o poder argumentativo da negação. Ao usar um argumento de exemplificação e de prova, colocando-se como testemunha, impede ao ouvinte negar toda a situação ou mesmo a colocar em dúvida. Desta forma a armadilha está armada, e estamos ficando presos nela. Nesta situação só podemos concordar serem normais todas as coisas que nos serão contadas. Aqui há uma falácia: confunde “normal” com “comum”. Já falamos sobre isso na nossa postagem de 20 de janeiro de 2019. Depois que caímos neste laço deixamos de notar algumas coisas, por exemplo, a parte que diz: “acordar e não querer levantar”, nem mesmo pensaremos se era cedo ou tarde. Se for tarde, não podemos criticar o rapaz que levanta tarde da cama? Não o podemos criticar seu ócio? Se for cedo, não podemos criticar a moça que consome bebida alcoólica fora de hora? Após sermos minados por seus argumentos sequer percebemos isso;
C. Nas linhas “10” a “20” há outra sequência que também visa impedir qualquer argumentação contrária a música. Ao dizer que “Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer” usa um argumento de causa e consequência além da força e da vontade humana: o destino. E contra o destino o que podemos fazer; nós, meros mortais? Só resta curvarmo-nos e aceitarmos. No entanto apelar para o destino é uma faca de dois gumes. Ao fazê-lo ele estava certo de que o ouvinte não poderia mais argumentar. Mas, se tal força invisível e da qual o homem não tem como escapar pode ser aceita, então é certo que um alguém que tem controle de tudo e já determinou tudo quanto há de acontecer também exista! Destino é como é chamada a soberania de Deus por àqueles que não O conhecem. E seguindo a determinação divina descrita por São Paulo em sua carta aos Romanos de que “Deus os entregou a paixões infames” (Rm. 1:26) por “não o terem reconhecido como Deus” (Rm. 1:21) o Eduardo, no afã de impressionar a Mônica, em uma festa com pessoas de fora de seu meio, faz coisas inconvenientes, mesmo sabendo que estava se prejudicando. Importante notar o acerto do compositor (mesmo que tenha sido involuntário) de que apesar do destino (ou da soberania de Deus) o homem continua sendo responsável por suas ações e receberá a devida recompensa por suas escolhas (Jó 34:11; Sl. 28:4; 62:12; Pv. 24:12; Is. 59:18; Jr. 17:10; 25:14; 32:19; Ez. 33:22; Os. 12:2; Zc. 1:6; Mt. 16:27; Rm. 2:6; II Co. 5:10; Cl. 3:25; II Tm. 4:14; I Pe. 1:17; Ap. 2:23; 18:6; 20:12; 22:12). O Eduardo fez algumas coisas que sabia errada para conseguir impressionar a Mônica e pegar seu telefone. Será que os fins justificam os meios? O livro de Provérbios diz que “Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.” (Pv 14:12). Tudo que fazemos tem consequências. Vamos acompanhar a música para ver o que acontecerá;
D. Nas linhas “21” a “27” vemos o começo do relacionamento deles. O ponto importante aqui está na linha “23”. A Mônica começa a influenciar o Eduardo e logo no primeiro encontro o convence a ir assistir um filme do diretor Godard. Não são muitos que o conhecem então vou resumir um pouco aqui. Jean-Luc Godard era um cineasta francês, anarquista e militante marxista. Em seus filmes buscava elevar o comunismo e, seguindo o ideal de Marx, buscava mostrar, como situações normais, atos condenáveis pelos valores judaico-cristãos. Alguns de seus filmes inclusive foram proibidos de serem transmitidos em vários países. Qualquer conservador o evitará. Para alguém como o Eduardo que ainda está em formação intelectual a influência da Mônica que, por ser de 5 a 8 anos mais velha (eu acredito que a ideia seria ser de 6 anos essa diferença), será determinante;
E. Das linhas “28” e “42” temos mais informações sobre o relacionamento deles e sobre suas personalidades. A primeira informação que temos é que eram muito diferentes um do outro. Não ter afinidades é um grande problema em um relacionamento. Qualquer relacionamento deste tipo é muito mais difícil. A falta de afinidade exigirá ainda mais renúncias de ambos. A informação seguinte é que a Mônica era de Leão e o Eduardo tinha 16 anos. Pode, à primeira vista, parecer uma informação irrelevante, mas não é. Apesar dos astrólogos quase nunca concordarem algumas coisas dos signos são características aceitas por quaisquer deles: as pessoas do signo de Leão são idealistas e independentes, gostam de aparecer e de dominar os ambientes que frequentam e não gostam de receber críticas. São vaidosos, gostam de luxar e são autoritários. Um adolescente de 16 anos será facilmente dominado por uma pessoa com estas características. Este relacionamento então viverá constantemente em uma inversão de responsabilidades, o que poderá ser frustrante para ambos. Algum dia, se Deus permitir, falaremos mais sobre relacionamentos. Por enquanto vamos ficar apenas com estas certezas. As demais informações sobre a Mônica mostram suas preferências com referências góticas. Manuel Bandeira e a banda Bauhaus com seus poemas e músicas melancólicas, Van Gogh com suas pinturas sempre retratando a tristeza, o psicodelismo e loucura dos Mutantes (já abordamos aqui uma música da Rita Lee, vocalista da banda, em 30 de outubro de 2018), Caetano Veloso, que durante o regime militar,  por diversas críticas ao governo, começar a se apresentar vestido de mulher e se dizer “andrógino” e abertamente defender o socialismo (ele ainda defende), foi exilado. Escolheu a Inglaterra (não a URSS, China ou Cuba, então países comunistas frequentemente visitados por brasileiros) e lá compôs músicas melancólicas. E, para terminar a lista das preferências da Mônica, Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, poeta francês e anarquista, também defensor do comunismo, mesmo tendo sofrido abusos por um grupo comunista, continuou fiel a sua ideologia (quanta escravidão e cegueira). Mônica ainda era praticante de religiões com viés espírita, meditação e magia. Também influenciava o Eduardo nas preferências políticas. Em contraste,  ele ainda vivia um período de “inocência”. Mesmo com tanta diferença entre eles ainda assim se apaixonaram e decidiram levar o relacionamento adiante. Já escrevemos, na postagem de 21 de setembro de 2016, sobre a diferença entre amor e paixão;
F. Das linhas “43” a “54” vemos a busca deles por afinidades para que o relacionamento dê certo. Com a Mônica sempre o conduzindo e ensinando ele acabou se tornando o que ela queria que se tornasse. Seu caminho agora era igual ao dela. Ainda jovem passou a fazer uso constante de álcool. Comemoram “algumas vitórias”, e mesmo ele buscando sua posição no relacionamento, as brigas, inevitavelmente, aconteciam constantemente. Mas, mesmo assim, insistiram no relacionamento, o que é louvável;
G. Das linhas “55” a “58” nos é mostrado os acontecimentos antes do fim do relato. Foram morar juntos (não podemos afirmar que casaram, mas tendo em vista as crenças que agora compartilhavam, podemos supor que não casaram) em uma casa que construíram devido ao “repentino” aumento da família. Com o nascimento dos gêmeos (que aliás seriam um casal) vieram algumas dificuldades, mas conseguiram com muita luta, supera-las.
Fazendo uma análise geral da música não é de surpreender que tanta gente no Brasil ainda acredite que o Comunismo/Socialismo é uma boa opção. A forte empatia que a letra transmite ao ouvinte é o que há de mais perigoso nesta música. Como qualquer pessoa pode se identificar com a estória contada, muita coisa acaba sendo assimilada sem que percebamos. Muitos adultos cresceram ouvindo essas músicas e devido à falta de conhecimento, suas personalidades em formação e a falta de uma boa base bíblica, foram alvos fáceis. Infelizmente a mudança de pensamento e personalidade não é fácil. Somente o Espírito Santo é capaz de tal transformação. Somente o sangue do Cristo, vertido na cruz do calvário, é capaz de quebrar as correntes que lhes prendem e os curar da cegueira em que se encontram.
Vamos ficando por aqui e tenham muito CUIDADO COM O QUE OUVEM!
P.S.: Se tiverem alguma música que queiram entende-la melhor, deixe seu título e intérprete nos comentários. Podem ser músicas seculares ou gospel. Faremos o possível para atendê-los.
Que Deus nos dê sabedoria e renove nosso entendimento.
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm. 12:2)
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.

Fontes:
- Caetano Veloso. Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caetano_Veloso. Acesso em: 26/08/2019;
- Ícone da Tropicália e MPB, Caetano Veloso foi preso e viveu no exílio na ditadura. O Globo. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/icone-da-tropicalia-mpb-caetano-veloso-foi-preso-viveu-no-exilio-na-ditadura-21611687. Acesso em 26/08/2019;
- Jean-Luc Godard. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Jean-Luc_Godard. Acesso em: 26/08/2019;
- O CINEMA DE JEAN-LUC GODARD. Disponível em: http://obviousmag.org/camera_obscura/2015/12/o-cinema-de-jean-luc-godard.html. Acesso em: 26/08/2019;
- Talento, inovação, ambiguidade sexual, homoerotismo: Caetano Veloso. Mundo de Música. Disponível em: http://mundodemusicas.com/talento-inovacao-ambiguidade-sexual-homoerotismo-caetano-veloso/. Acesso em: 26/08/2019;

terça-feira, 20 de agosto de 2019

🍇 Fruto e Dons do Espírito - Introdução 🕊

» Fruto e Dons do Espírito Santo (20 de agosto de 2019)

Iniciando esta nova série de postagens os convidamos a aprofundarmo-nos nestes assuntos que em parte é tão ignorado (ou pouco estudado) e de outra é tão conhecido e ainda assim tão polêmico. Nossa pretensão é, como sempre, expor o assunto a Luz das Escrituras Sagradas. Por alguns pontos serem muito polêmicos, e já há muito tratado de forma descompromissada e manipulada, certamente alguns discordarão de algumas coisas que serão escritas ao longo desta série, mas peço que analisem bem, antes de as rejeitar definitivamente. Estejam certos que nada aqui é feito com leviandade ou para causar ainda mais discussão sobre o assunto, ao contrário, nosso objetivo será sempre o esclarecimento da forma mais simples que pudermos.

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Nesta postagem introdutória vamos nos ater a forma destas postagens e alguns aspectos gerais dos pontos em questão.
As postagens serão alternadas entre os dois temas, isto é, em uma postagem falaremos sobre um dos aspectos do Fruto do Espírito Santo e em outra sobre um dos Dons, salvo os pontos de maior polêmica ou extensão que serão divididos em mais de uma postagem. A ordem adotada será a alfabética e os textos que contém as listas que serão utilizadas são:
a. Para o Fruto: Rm. 12:9-18; Gl. 5:22; Cl. 3:12-13; Tt. 1:8;
b. Para os Dons: Rm. 12:6-8; I Co. 12:8-10, 28 e Ef. 4:11.

Você deve ter notado que tratei como “O Fruto do Espírito” apesar de corriqueiramente tratarmos como “Os Frutos do Espírito”, como se este fossem muitos; saiba, no entanto, que é apenas um, ou seja, realmente é “O Fruto do Espírito” e este traz todas as qualidades que habitualmente tratamos com se cada uma fosse um fruto distinto. Trataremos então cada qualidade como “virtude”. Os Dons do Espírito, entretanto, são individuais e, apesar disso, pode acontecer que, aparentemente, algum salvo não apresente nenhum deles e, que outros, mais de um deles. Os Dons do Espírito não são parâmetros para salvação como é possível lermos em Mt. 7:15-23. Julgar se uma pessoa é salva olhando para os dons que apresenta é o mesmo que dizer se uma árvore é boa olhando para um ninho que algum pássaro eventualmente tenha feito em seus galhos. Tal árvore pode não ter nem mesmo folhas, quanto mais fruto e, sem este, não é possível que seja salvo (conforme Sl. 1:3-6; Jr. 6:19; 12:13; 17:8-10; 21:14; 32:19; Ez. 19:12; Mq. 7:13; Mt. 3:8-10; 7:15-23; 12:33; 21:19-20, 43; Lc. 3:8-9; 6:43-45; 13:6-9; Jo. 15:2-6; Rm. 6:22-23).
Continuísmo e Cessacionismo – uma nova proposta
Os cristãos hoje, em se tratando do assunto dos dons, estão “divididos” em grupos. Oficialmente só há os Continuístas e Cessacionistas, mas hoje há uma variação tão grande de pensamentos nestes grupos que apenas estas duas não são mais suficientes para um bom entendimento. Aqui vamos, como proposta, tratar os grupos a partir de uma nova classificação. Pode ser que você não concorde com toda a descrição de cada um deles, mas procuramos generalizar o máximo possível para que todos possam, em maior ou menor proximidade, conseguir se identificar, novamente, por proximidade. A proposta então é:
I. Hipercontinuístas: acreditam que todos os dons são miraculosos e que hoje são mais comuns que na época dos apóstolos. Sempre que alguém é batizado com o Espírito Santo obrigatoriamente têm que falar em uma língua estranha e que sempre que alguém exerce algum dom é porque foi batizado pelo Espírito Santo. Como o falar em línguas é obrigatório como selo do batismo com o Espírito Santo àqueles que não falarem, ao menos uma vez na vida, não serão salvos, entretanto o falar não é garantia de salvação. Atribuem a quantidade de dons de uma pessoa a sua santidade, isto é, quanto mais santo, mais dons lhe será dado e acreditam que uma vez tendo recebido o dom não pode perde-lo exceto ao se desviar do evangelho. É comum manifestações de dons em quaisquer circunstâncias. Tratam os grupos cessacionistas como hereges;
II. Continuístas: Não fazem distinção entre dons naturais e miraculosos e creem que todos continuam da mesma forma como eram nos dias dos apóstolos. Acreditam que sempre que alguém for batizado com o Espírito Santo fará uso de algum dos dons sendo o falar em línguas o mais comum. Quem não recebe nenhum dom durante sua vida não será salvo, pois não recebeu o Espírito Santo. Pode haver algumas raras exceções como na conversão logo anterior a morte. Culto sem manifestação de dons é um culto onde o Espírito Santo não se fez presente;
III. Semicontinuístas: Fazem distinção entre os dons naturais e miraculosos, mas acreditam que todos ainda estão disponíveis e são dados por Deus, seja por milagre, seja por capacitação, e que qualquer deles surge em momentos propícios para qualquer pessoa. A apresentação do dom é sinal de batismo com o Espírito Santo, mas não é necessário haver manifestação pública de algum deles para que o indivíduo seja salvo e que sua manifestação não é sinal de salvação. Os dons miraculosos aparecem com frequência, especialmente nos cultos;
IV. Semicessacionistas: A diferença entre estes e os semicontinuístas é que estes acreditam que algum(ns) dom(ns) não existe(m) mais, ou seja, cessou(aram) e que a manifestação dos dons miraculosos não é frequente. Não há relação entre os dons miraculosos e batismo com o Espírito Santo;
V. Cessacionistas: Acreditam que todos os dons miraculosos se encerraram quando o Cânon das Escrituras foi fechado ou quando os apóstolos faleceram. Para eles o batismo com o Espírito Santo não tem relação com o falar em línguas estranhas ou mesmo com a manifestação de quaisquer dom. Os dons miraculosos podem aparecer em casos extraordinários, sendo assim extremamente raros.
VI. hipercessacionistas: Acreditam que os dons miraculosos cessaram por absoluto após a definição do Cânon das Escrituras ou morte dos apóstolos. Creem que os dons citados por Paulo são dons naturais e os que não são foram citados porque o Cânon das Escrituras ainda não estava fechado. Creem que todas as manifestações miraculosas são obras do diabo e tratam os grupos continuístas como hereges.

Acredito que esta proposta será bem aceita por você, leitor. Deixe nos comentários em qual grupo você se encaixaria (por aproximação, não precisa concordar 100%, mas com a maior parte) nesta nova classificação.

Tratando alguns pontos para defender minha posição
1. Batismo com o Espírito Santo: Um ponto na questão dos dons que é bastante polêmico, mas que não vamos nos aprofundar muito aqui, é de que estes são a evidência do batismo com o Espírito Santo. Esta forma de pensar partiu da má compreensão de duas passagens; uma que está em At. 8:5-25 e a segunda que está em At. 19:1-6. Por causa destes dois textos que tem expressões como “... oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo” e “... impondo-lhes ... as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; ...” passou a ser amplamente ensinado que o batismo com o Espírito Santo é um ato posterior ao arrependimento e antecessor ao recebimento de dons. Entretanto não devemos pegar casos particulares e tratar como gerais. Se estes casos fossem parâmetros de regra geral não é estranho que Lucas, o mesmo que relatou estes eventos, não o tivesse feito anteriormente em momentos com muito mais conversões? Veja, por exemplo, At. 2:41-43 e At. 4:4, onde, no primeiro, cerca de três mil pessoas foram batizadas (com água) e apenas os apóstolos realizavam prodígios e sinais e, no segundo, o número de homens salvos subiu para quase cinco mil. Um relato neste momento, em que a igreja estava começando, de que as pessoas eram batizadas com o Espírito Santo e recebiam dons miraculosos teria um impacto muito mais significativo, não acha?
Voltando para o texto de At. 8:5-25 não lhe é estranho que foi preciso ir Pedro e João, de Jerusalém para Samaria, para que estes pudessem receber o Espírito Santo? As perguntas pra você são: a. Felipe, que pouco depois deste acontecimento foi transladado pelo Espírito Santo, era um dos Apóstolos e, possivelmente, também estava no evento citado em Atos 2, não poderia ter-lhes concedido o Espírito Santo no momento do batismo nas águas? e; b. Não é estranho que não haja relato de dons miraculosos em momentos de conversão de judeus, apenas de gentios?
A generalização de casos particulares nem sempre é possível. Quem fez curso na área de exatas vai saber que mesmo que você consiga induzir, ainda assim poderá dar errado quando deduzir. Resumindo, o erro de pensar que o Batismo no Espírito Santo é posterior a conversão e que o recebimento de dons é evidência disto parte do erro de: a. generalizar casos particulares ou; b. pegar esta generalização e depois aplicar a casos particulares. E, por fim, mesmo que deduzir após induzir esteja correto, não poderia valer para nossos dias e você vai entender o porquê quando da postagem sobre o Apostolado.
2. Dom universal de línguas estranhas: Falaremos mais sobre este ponto quando formos falar desse dom especificamente, mas afirmar que todos os salvos obrigatoriamente têm que falar em línguas estranhas não está correto conforme podemos verificar nos textos de I Co 7:7; 12:6, 11-31.
3. Risco do que se ensina: há um enorme risco no ensinamento errado sobre quaisquer temas e sobre os dons espirituais não poderia ser diferente. Afirmar categoricamente que uma pessoa que não fale em línguas estranhas não será salva é de uma irresponsabilidade sem tamanho; primeiro porque não é bíblico e depois porque pode realmente levar alguns a problemas espirituais e mentais. Não ficaria surpreso se nestes meios houvessem pessoas que “inventam línguas” ou só repetem o que ouvem constantemente apenas para não serem marginalizados na sua comunidade. Dizer que o dom de línguas é pré-requisito para salvação é estar contribuindo para a queda e pecados do outro, daquele que honestamente quer buscar e servir a Deus de todo seu coração. E, sim, da forma que é colocado por alguns, se torna pré-requisito a salvação, assim como para outros grupos a guarda do sábado o é. Algumas comunidades até fazem cursos de falar em línguas estranhas, mas me pergunto qual o propósito disto, pois, a principal finalidade dos dons é a salvação de almas e tais práticas são opostas a isto. Nada de bom sairá do engodo.

Como saber se algum dom não está sendo dado pelo Espírito Santo
Há algumas formas de sabermos se um dom está sendo dado pelo Espírito Santo e aqui exporei as mais gerais, isto é, vale para todos os dons. Nas postagens de cada dom trataremos de pontos mais particulares:
1. A Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, logo nenhum dom dado pelo Espírito Santo será contrário a ela, assim, qualquer palavra ou atitude contrária a sã doutrina não será obra do Espírito Santo;
2. O principal objetivo dos dons é a salvação de almas e a edificação da igreja, logo eles não serão dados fora destes objetivos e para que os alcancem devem ser inteligíveis e verdadeiros (I Co. 14:9, 19; Ef. 5:17; Cl. 2:2);
3. Se um dom está atrapalhando o culto, principalmente a exposição das Escrituras Sagradas, não é dado pelo Espírito Santo. Deus preza pela decência e ordem (I Co. 14:40) portanto qualquer manifestação ou dom que venha a prejudicar ou escandalizar certamente não será por meio do Espírito Santo;
4. Um pastor ou pregador não tem autoridade para manipular os dons espirituais. Os dons são distribuídos pelo Espírito Santo (I Co. 12:11). Se colocar como despenseiro do dom de línguas é limitar e minimizar a ação do Espírito Santo;
5. Os dons também não são meros frutos do pensamento do homem. Nem tudo que nos vem à cabeça é proveniente de Deus. Devemos sondar nossos corações e conhecer bem as Escrituras, assim evitaremos atribuir ao Espírito Santo aquilo que é apenas nossa vontade; ou nossa fraqueza.

Esperamos que o pouco que foi tratado aqui de forma introdutória tenha ficado claro, mas, caso negativo, deixem suas dúvidas, críticas ou sugestões nos comentários e, se for julgarmos proveitoso, responderemos ou abordaremos em uma próxima postagem, se Deus assim nos permitir. Na próxima postagem desta série abordaremos o Fruto do Espírito especificamente na virtude da Alegria. Até a próxima!

"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. " (Mt. 7:21)
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.