» Out of Series (10 de outubro de 2021)
Continuando, e concluindo, a abordagem às questões que sugiram no Ep. 10 da Temporada 14 da série Grey’s Anatomy vamos agora aos pensamentos da dra. April no final deste episódio; pensamentos estes que surgem de suas incertezas, da forma como procura entender as Escrituras e ainda de seu desconhecimento de Deus, o que, infelizmente, se estende a uma grande parcela dos que se consideram cristãos.
A dra. April já vinha enfrentando uma crise de fé e os
acontecimentos recentes só aumentaram suas incertezas. O que sobrava de fé
desapareceu com os eventos daquele dia: a esposa de seu ex-namorado dá entrada
grávida, no hospital, com complicações e falece pouco após dar à luz. Ela não
consegue harmonizar seu conhecimento limitado e, em grande parte equivocado,
com os tristes eventos daquele dia. Em sua “suprema bondade” o sofrimento não
era justificável, logo era impossível harmonizar um Deus bom e todo poderoso
com as inúmeras situações ruins que acontecem todos os dias “bem debaixo do seu
nariz”, como ela própria diz.
Já ambientados vamos então entrar em seus pensamentos.
Deus abandonou seus filhos?
Logo após ver o corpo, agora sem vida, da
mulher que estava casada com seu ex-namorado lhe vem à mente as palavras de
Jesus em seus últimos momentos na cruz: “Eli, Eli, lamá sabactâni? O que
quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” [Mt. 27:46]. Este
certamente era o sentimento que ela estava neste momento e é, em muitos
momentos de nossas vidas, o sentimento que nos aflige. Mas precisamos corrigir
algumas coisas:
1. Apesar de parecer, com exceção da
ocasião de Jesus na cruz, por motivos que não convém aqui explicar, Deus não
abandona seus filhos [Is. 49:14-15; Rm. 8:35-39], apesar de que isto não é um
“salvo-conduto” contra o sofrimento [I Co. 15:30; II Co. 11:23-27]. É certo que
passaremos por momento difíceis. Também não deveria ser estranho para nós o
fato da morte, pois esta é uma das poucas certezas que temos na vida;
2. Os motivos pelos quais passamos por
sofrimento nem sempre nos é claro, mas certamente somos moldados também por
eles [I Co. 11:31-32];
3. O sofrimento sempre faz com que
pensemos em Deus, alguns para salvação, os aproximando d’Ele e outros para
condenação, os afastando. Este, afinal, é o principal motivo de nossa vida
aqui: decidirmos onde iremos passar a eternidade.
O presente da fé?
A dra. April prossegue: “Jó também fez
esta pergunta, mas ele manteve a fé. E o que ele ganhou com isso: filhos
postiços e transtorno de estresse pós-traumático. Valeu a pena ter sido um
servo fiel? Ou teria sido melhor amaldiçoar o nome de Deus desde o começo?”
Certamente ela está fora de si neste
momento, não leu todo o livro de Jó ou simplesmente não entendeu nada do que
leu. Todo o sofrimento passado por Jó teve seu propósito e ele é resumido em
suas palavras: “Eu te conhecia [a Deus] só de ouvir, mas agora os
meus olhos te vêem.” [Jó 42:5]. Várias outras coisas se encontram neste
livro, mas por agora só precisamos saber disso e que, ao final, e com exceção
dos filhos, Deus lhe deu tudo em dobro [Jó 42:10].
Deus também não se exime das diversas
circunstâncias da vida como você poderá ler no versículo seguinte: “... e o
consolaram de todo o mal que o SENHOR lhe havia enviado” [Jó 42:11] e “Eu
formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas
estas coisas.” [Is 45:7].
Filhos postiços seriam filhos ilegítimos?
Jó não os teve.
Ele gerou outros sete filhos e três
filhas e estas foram mais belas que as primeiras [Jó 42:13, 15]. Viveu ainda
muito tempo e feliz [Jó 42:16-17], logo não dá pra imaginá-lo com alguns traumas
ou transtornos.
As duas últimas perguntas que ela fez,
evidentemente, podem ser respondidas com um sim e um não, respectivamente. Leia
toda a história de Jó, compare com o seu sofrimento presente ou passado, e ao
final, responda por si mesmo estas mesmas perguntas.
Quando sofremos, onde está Deus?
Ela segue: “Onde estava Deus durante todo
o sofrimento e toda a dor de Jó?”
Deus estava onde sempre esteve. Ele
impediu que sua vida fosse ceifada pelo Diabo, que não hesitaria em fazê-lo se
tivesse permissão para tal. E, após um discurso que mostrou a Jó sua pequenez
em relação ao criador, lemos o que segue: “Disse mais o SENHOR a Jó: Acaso,
quem usa de censuras contenderá com o Todo-Poderoso? Quem assim argúi a Deus
que responda. Então, Jó respondeu ao SENHOR e disse: Sou indigno; que te
responderia eu? Ponho a mão na minha boca. Uma vez falei e não replicarei,
aliás, duas vezes, porém não prosseguirei. Então, o SENHOR, do meio de um
redemoinho, respondeu a Jó: Cinge agora os lombos como homem; eu te
perguntarei, e tu me responderás. Acaso, anularás tu, de fato, o meu juízo? Ou
me condenarás, para te justificares?” [Jó 40:1-8].
As perguntas que temos que responder
diante do sofrimento são estas.
Como a resposta certamente será não e não,
o que temos que fazer é olhar para o que ganhamos no sofrimento. Algumas delas,
mas não se limitando a, são fé, esperança, força e conhecimento.
O caso Jó: conflito cósmico?
O cenário muda para um bar e, enquanto consome
álcool, responde sua própria pergunta: “Ele estava ganhando uma aposta com
Satã”.
Então aqui está a errônea ideia de
“conflito cósmico entre o bem e o mal”. Tal conflito inexiste. O diabo não é
inimigo de Deus pois não há quem O possa vencer. Nas escrituras encontramos a
descrição dos que são inimigos de Deus: “Infiéis, não compreendeis que a
amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo
constitui-se inimigo de Deus.” [Tg. 4:4] e mesmo estes são submissos a Ele
[Sl. 66:3]. Assim é equivocado o entendimento de uma aposta entre Deus e o
diabo nos eventos descritos no livro de Jó.
A melhor forma de entendermos o texto é
levando em conta que o diabo, por ser o príncipe deste mundo [Jo. 12:31; 14:30;
16:11; Ef. 2:2], teria então domínio sobre ele (ao menos até certa altura e
época). Veja a semelhança destes textos, principalmente nas partes que destacamos:
1. “Então, perguntou o SENHOR a
Satanás: Donde vens? Satanás respondeu ao SENHOR e disse: De rodear a terra
e passear por ela.” [Jó 1:7];
2. “Quando ouviram a voz do SENHOR
Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da
presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim.”
[Gn 3:8];
3. “Uma tarde, levantou-se Davi do seu
leito e andava passeando no terraço da casa real; daí viu uma mulher que
estava tomando banho; era ela mui formosa.” [2Sm 11:2];
4. “Tornou ele e disse: Eu, porém,
vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem
nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses.” [Dn
3:25];
5. “Ao cabo de doze meses, passeando
sobre o palácio real da cidade de Babilônia, falou o rei e disse: Não é
esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso
poder e para glória da minha majestade?” [Dn 4:29-30];
6. “Onde está, agora, o covil dos
leões e o lugar do pasto dos leõezinhos, onde passeavam o leão, a
leoa e o filhote do leão, sem que ninguém os espantasse?” [Na 2:11];
Essa expressão pode ser entendida como
alguém que está verificando suas terras durante uma incursão ou caminhada
despreocupada, apenas com intuito de admirar o que é seu. Satanás, no sentido
do texto de Jó, podemos entender como acusador. Assim o melhor cenário para
entendermos corretamente o texto é o diabo indo até Deus para apresentar uma
causa (queixa) onde ele se sente prejudicado ou lesado. O objeto da disputa são
atitudes de Jó que se recusa a servir ao dono da terra em que habita, mas talvez
houvessem outras questões, não sabemos ao certo, já que Deus tomou a dianteira
e fez com que toda a atenção fosse centrada apenas em Jó, evitando, assim, que
outras demandas fossem levantadas pelo diabo. Deus aproveitaria a ocasião e
faria juízo aos seus filhos e servos, que já haviam completado a medida de sua
iniquidade, além de dar a Jó o conhecimento verdadeiro de Deus, a quem ele se
esforçava por servir. Lembre as palavras de Jó já citadas anteriormente aqui: “Antes,
eu só te conhecia de ouvir falar; agora, eu te vi com meus próprios olhos.”
[Jó 42:5 – NVT (Nova Versão Transformadora)].
Quem é responsável por todos os
males do mundo?
O cenário muda novamente. Agora ela está
no banho (assim como no começo do episódio, quando meditava sobre os
acontecimentos descritos em Jó, é como se todo o episódio fosse suas recordações
daquele dia), só que, agora, depois de ter “dormido” com o primeiro cara (um
desconhecido) que lhe dirigiu a palavra no bar. Seus pensamentos são: “Faz você
se perguntar onde Ele está diante de toda injustiça, desigualdade e crueldade
do mundo”.
Como já dissemos Deus não se exime dos
acontecimentos. Tudo só acontece de acordo com Sua vontade [Mt. 10:29; Is.
46:9:10; Dn. 4:35]. Então como um Deus bom permite que tanto mal aconteça?
O primeiro problema a ser resolvido é que
quando alguém diz isso parte do pressuposto que inocentes estão sofrendo, o que
é um grande equívoco. Vejam o que São Paulo escreveu aos Romanos,
principalmente nas partes que destacamos: “Que se conclui? Temos nós
qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos,
tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não
há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos
se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um
sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano,
veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e
de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos,
há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de
Deus diante de seus olhos.” [3:9-18], logo não há inocentes sofrendo.
O segundo ponto que temos que entender é
que Deus sabe o que é melhor para nós: “Sabemos que todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito.” [Rm. 8:28]. Como dizem os antigos: “Há males que vem para o
bem”. Acredito não ser necessário repetir aqui que os acontecimentos, mesmo os
piores, moldam nosso caráter, nos dando conhecimento, fé e força. Para alguns
são a oportunidade de ajudar, de amar, enquanto para outros, a de serem amados.
O terceiro ponto é que todas as
“injustiças, desigualdade e crueldade do mundo” são praticadas tanto por homens
como por animais. Eliminar isto significa eliminar toda a existência. Decerto
Ele não fará isso antes do fim e, depois, como viu São João em sua visão em Patmos:
“Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram,
e o mar já não existe.” [Ap 21:1].
Onde Ele está agora?
A dra. April pergunta enquanto peca,
mesmo sabendo a resposta.
Mas, se você não sabe, lhe responderei: sofrendo
diante de toda afronta à Sua santidade. E, depois, você reclamará do juiz
quando ele decretar a sentença e aplicar o castigo?
Não pense, entretanto, que por Deus ser
tardio em irar-se [Ne. 9:17, Sl. 145:8, Jl. 2:13, Jn. 4:2, Na. 1:3] suportará
para sempre a transgressão, “Não se desviará a ira do SENHOR, até que ele
execute e cumpra os desígnios do seu coração; nos últimos dias, entendereis
isso claramente.” [Jr. 23:20].
“Eis que temos por felizes os que
perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor
lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo.” [Tg.
5:11]. Até a próxima!
"Que a graça e a Paz de Deus, nosso
Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam com vocês." [I Co. 1:3]
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Oz. B. Silva
Técnico em Informática, Graduado
em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.
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