sábado, 20 de outubro de 2018

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» Série: Aparentes Contradições da Bíblia (20 de outubro de 2018)
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5. Os problemas do sabatismo
Precisamos agora tratar dos “problemas” do sabatismo. Encontramos basicamente dois tipos de sabatistas:
1. Os do sétimo dia: Os sabatistas do sétimo dia são aqueles que guardam o Shabbath exatamente no dia de sábado assim como fazem os israelitas. Os maiores problemas destes são:
a. A aplicação efetiva dos Dez Mandamentos, mas a abolição de toda a lei mosaica: apesar de toda a Escritura tratar o Decálogo como parte integrante da Lei Mosaica, os sabatistas afirmam que são duas coisas distintas. Se fiam em afirmar que a única lei que permanece é a lei moral e que todas as leis cerimoniais foram abolidas enquanto que as leis civis valem apenas para os judeus; tal distinção é equivocada e mostramos isso nas postagens sobre os Dez Mandamento e trataremos um pouco mais sobre isso mais a frente;
b. O foco exagerado no quarto mandamento: dão mais importância ao quarto mandamento do que aos demais mandamentos de Deus (apesar de alegarem que não, não é o que se vê na prática); chegando a chama-lo de “selo de Deus” (logicamente não há texto bíblico que suporte tal afirmação). E o colocam como o “centro da lei”; o que é estranho. Se por um lado ele não está no centro do Decálogo pois não é sua mediana, também não é o mandamento mais importante, afinal conforme dito por Jesus em Mt. 22:34-40 ou Tg. 2:10 não há mandamento mais ou menos importante. Esta denominação, portanto, é exagerada e descabida;
c. É pré-requisito para salvação: Apesar disso parecer estranho, principalmente para a maioria dos sabatistas, peço que me deixem explicar como chegamos a esta conclusão. É certo que afirmam que a salvação é pela fé [Ef. 2:8], mas quando escrevem sobre o assunto: “... a função seladora do Espírito Santo no plano da salvação não conspira contra a identificação do sábado como “o selo do Deus vivo” ... Em realidade, o Espírito Santo é concedido aos que obedecem a Deus (Atos 5:32) e, por essa razão, Ele é chamado por Cristo de “o Espírito da verdade” (João 14:17; 15:26; 16:13). Sua obra é conduzir os seguidores de Cristo “a toda a verdade” (João 16:13), da qual faz parte o quarto mandamento do decálogo, que ordena a observância do sábado (Êxo. 20:8-11; cf. Sal. 119:142).” [TIMM]. Ellen G. Write escreveu: “Foi-me mostrado o modo por que o povo remanescente de Deus obteve seu nome. Duas classes de pessoas me foram apresentadas. Uma abrangia ... cristãos professos. Estes tripudiavam sobre a lei divina... A outra classe, posto que pequena em número, tributava obediência ao grande Legislador. Estes guardavam o quarto mandamento... É aqui que está a linha divisória entre os que adoram a Deus e os que adoram a besta...”, onde claramente podemos notar a distinção dos que são salvos. Assim a consideração é que apenas aqueles que guardam o Shabbath no sábado (veja que este é o único requisito) tem o Espírito Santo e são salvos pelo sacrifício de Cristo; e aqueles que não o guardam não são. Em outras palavras, dizem que aqueles que não guardam o Shabbath no sábado não podem ser salvos e o sacrifício do Cristo não pode lhes alcançar. “[São] Paulo se opõe a esse tipo de observância do Shabbath, pois é parte de uma ‘filosofia’ que procurava ir além de Cristo para obter a plenitude da salvação.” (CARSON At. al.).
2. Os do primeiro dia: Os sabatistas do primeiro dia são aqueles que guardam o Shabbath no domingo. Geralmente o chamam de “O Dia do Senhor”. Estes também incorrem em alguns erros, que são:
a. Não há alteração de dia para o quarto mandamento: Assim como os do sétimo dia, justificam a guarda do domingo como obediência ao quarto mandamento. Os mesmos problemas do outro grupo ocorrem neste, mas o maior problema é que em nenhum lugar da Escritura o quarto mandamento do Decálogo teve uma alteração explicita de dia do Shabbath;
b. O domingo era guardado como “O Dia do Senhor” pelos apóstolos e pais da igreja: o problema aqui é que o domingo era guardado como dia de culto, exclusivamente, e não como o Shabbath, portanto não houve uma autorização dos apóstolos para tal mudança;
c. A teologia: Os textos bíblicos que são utilizados para defender seu posicionamento são extremamente imprecisos e até mesmo mal aplicados.
6. Há exceções à regra
Uma observação importante é que entre Gn. 2:2 e Êx. 16 não há nenhuma menção de que o Shabbath fosse guardado, por qualquer pessoa que seja, em todo este período; mesmo Deus tendo iniciado o povo, que agora estava recebendo os mandamentos, muito tempo atrás, com Abraão.
É quase certo que durante todo o período que estiveram vagando no deserto eles observaram o Shabbath após seis dias de trabalho, ou seja, no sétimo dia. Mas podemos notar que não era uma regra inquebrável. Alguns exemplos são citados por CARSON, At al.: “O fato de o Shabbath ter por objetivo o serviço de Deus, e não a inatividade, fica claro nas “violações” do Shabbath encontradas no Antigo Testamento: os sacerdotes no templo, a circuncisão no Shabbath, a captura de Jericó, as batalhas dos Macabeus. O Shabbath ocioso dos judeus também foi condenado pelos profetas (p. ex., Is 1.13,14)”. E além desses podemos ver outras batalhas em que o Shabbath era “violado” como em I Rs. 20:29 e os próprios atos de Jesus, como mostrado anteriormente, além de não haver nenhuma menção de que ele era guardado durante o período do exílio babilônico. Só para concluir este ponto, na ocasião da tomada de Jericó, o próprio Deus lhes deu ordem de dar o dobro de voltas, e além disso tocar as trombetas e gritar, e após a queda dos muros ainda entraram em confronto, onde houveram muitas mortes e a cidade destruída.
7. O que diz o mandamento
“Lembra-te do dia do Shabbath, para o santificar.” [Êx. 20:8] e “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra” [Êx. 20:9]. Olhando o texto desta forma o que nos transparece é que o dia específico não é tão importante, mas sim o conceito de trabalhar e descansar. Se não nos apegarmos ao calendário, mas ao princípio textual o Shabbath passa a ser “flexível”, de acordo com a jornada de trabalho de cada pessoa e assim é possível que o mandamento seja mais “acessível” a todos. No caso de Israel, o Shabbath acontece nacionalmente no sábado, ou seja, há uma lei nacional que institui o sábado como o dia para o Shabbath. Mesmo assim há algumas pessoas que trabalham nestes dias como, por exemplo, os hospitais, os que trabalham em urgências e emergências. No Brasil, o Shabbath instituído nacionalmente acontece no domingo, adotado como o primeiro dia da semana de nosso calendário. Levando em consideração o princípio descrito no mandamento, um garçom, que inicia seu trabalho na terça-feira, teria seu Shabbath na segunda-feira, que é o sétimo dia após seis dias de trabalho. Desta forma, utilizarmos o domingo para nosso Shabbath não seria apenas certo como também conveniente. No entanto não concordamos com o posicionamento como o do site Resistir & Construir (link na bibliografia) que tratam o domingo como dia exclusivo de cumprimento do quarto mandamento.
8. Sabatistas: ser ou não ser, eis a questão?
Este subtítulo foi apenas para dar “um tom” ao ponto. Não resisti (rsrsrsrs). Mas vamos ao que interessa. Agora explicaremos os motivos pelos quais não devemos ser sabatistas:
1. A lei do AT foi especificamente para os hebreus: Conforme texto de II Re. 17:35-38. Não é necessário comentários de minha parte. Se precisarem de mais texto para reforçar a ideia podemos indicar Dt. 29:1-9,25;
2. O Decálogo não pode ser tratado separado da Lei: Já falamos mais de uma vez, mas vamos repetir: não há nenhum texto na Escritura que nos permita tratar os Dez Mandamentos de forma separada do restante da Lei Mosaica, assim sendo, ou dizemos que toda ela deve ser seguida (Gl. 5:3; Tg. 1:10), que toda ela foi substituída ou que toda ela foi modificada. Costumam dividir a Lei Mosaica em: Moral, Civil e Cerimonial. A Escritura não dá margem para esta divisão entre o que é Lei moral e cerimonial, mas trata toda ela como “sombra das coisas futuras” (Cl. 2:17; Hb. 8:5; 10:1). Não podemos dizer também que uma pequena parte da lei ainda é válida e sua maior parte não é. Chega-se a dizer que um mesmo mandamento pode se encaixar em mais de um aspecto, o que não facilita. Os sabatistas vão dizer que a Lei Moral ainda permanece e que esta é o Decálogo. A questão principal é como dizer o que é cada coisa em uma norma. Por exemplo, Lei Civil são “Normas que regulamentam o estado e a capacidade das pessoas, suas relações patrimoniais; as relações e os interesses das famílias e as obrigações entre particulares não comerciantes.” (ENCICLOPÉDIA JURÍDICA). Sob esta definição como dizer que não há moral na lei civil? Como dizer, por exemplo, que Lv. 25:39 não faz parte da lei moral? Bem, diante da ausência de textos bíblicos que apoiem a ideia e da dificuldade de fazer a divisão nestes três aspectos não podemos assumir que uma parte da lei do AT vale e outra não vale;
3. A lei do AT e a que está implantada no coração do homem tem um propósito: O propósito da lei é apontar o pecado. Mostrar ao homem que ele precisa de arrependimento pois, para Deus, está morto [Rm. 2:14; Gl. 3:19, 24], ou seja, a lei não salva, mas condena;
4. A lei do AT perde sua validade para os que estão em Cristo: Quando somos regenerados por Cristo a lei perde sua validade para nós [Rm. 7:6]. Nos serve “apenas” como parâmetro que nos ajudam a conhecer o caráter de Deus e no processo de santificação [Gl. 3:11]. Uma nova lei é que nos rege agora [Hb. 8:10-13]. Em outras palavras a Lei foi dada para: falar do Cristo, nos levar ao Cristo, ser cumprida pelo Cristo e encerrada no Cristo;
5. Estamos mortos para a Lei: Como morremos com Cristo a lei não tem mais poder sobre nós [Rm. 7:6] assim não seremos mais julgados por ela. Se quiser entender um pouco mais como isso se dá leia nossa postagem de 07 de maio de 2017;
6. Não é essencial a salvação: preservar um dia da semana para descanso, seja no sábado ou qualquer outro dia, não é o que vai nos conduzir a salvação. Decerto que temos necessidade de um dia para descansar das fadigas do trabalho e podemos fazer uso deste dia para nos reunirmos e cultuarmos a Deus em comunhão com os irmãos. Por outro lado, se você quer dedicar um dia especialmente para Deus, também não há proibição de fazê-lo (Rm. 14:5-6; Cl. 2:16-17), no entanto não pode atribuir a salvação a isto;
7. A Lei foi substituída ou modificada: Os que dizem que a Lei não foi abolida se referem apenas aos Dez Mandamentos como sendo Lei de Deus e todo o restante como Lei Mosaica, que fora abolida. Como falamos antes isto não tem respaldo bíblico e, portanto, este entendimento não pode ser verdadeiro. Tratando a Lei como deve ser tratada há os que defendem sua substituição e os que defendem sua modificação. Os que defendem sua substituição creem que Jesus cumpriu a Lei e instituiu uma nova Lei, citando como exemplo claro o texto de Jo. 13:34. Os que defendem sua modificação focam nas mesmas leis do AT que foram reinterpretadas no NT. Na substituição teríamos que fazer toda uma leitura dos textos do NT olhando de uma forma legalista, buscando quais textos fariam parte da nova lei. Seria um trabalho muito grande e há um grande risco de um entendimento de salvação pelas obras, o que deve ser evitado, pois a salvação não pode mais ser tratada como um “faça isso que será salvo”. O NT traz vários textos diferentes (aparecem em seis formas distintas) dizendo que se você fizer algo será salvo, mas nunca como uma questão legal; sempre como uma questão de fé. Confesso que tenho ainda problemas em me decidir entre as duas (substituição ou modificação) por achar que são muito similares. Como acredito, fica mais para as modificações que para a substituição. Talvez algo que junte as duas coisas, não sei ao certo. Entendo, por exemplo, e apenas para citar alguns, que há uma clara mudança cerimonial entre a Páscoa e a Santa Ceia [Mt. 26:17-19]; entre os cerimoniais de purificação [Nm. 8:5-7] e o batismo [Mt. 21:25]; entre a circuncisão na carne [Gn. 17:11; Lv. 12:3] e a circuncisão no coração/espírito [Dt. 30:6; Fl. 3:3]; e os sacrifícios de animais e o nosso sacrifício [Rm. 12:1; I Pe. 2:5]. Se tratarmos a lei olhando deste prisma todos os textos (creio) se encaixam perfeitamente. Podemos dizer que a antiga lei passou [Mt. 5:18 e Jo. 19:28-30] e agora há uma nova lei, já que uma modificação do mandamento pode invalidar ou apenas alterar mandamentos anteriores [Hb. 7:12].
8. Sacerdotes não quebram o mandamento: Os sacerdotes “tinham permissão” para quebrar o mandamento e não incorrer em pena [Mt. 12:5]. Como em Cristo todos somos transformados em sacerdotes para adorar diariamente ao Senhor em tudo que fazemos e a todo momento, não sofremos punição [Is. 61:6; I Pe. 2:5, 9; Ap. 1:4-6; 5:9-10; 20:6];
9. Todos os nossos dias são para Cristo: Independentemente de você dedicar um dia exclusivamente para servir a Deus não devemos nos esquecer que todos os nossos dias devem ser dedicados a Cristo. Conforme São Paulo escreveu em I Co. 10:31 tudo que fazemos, até mesmo as mínimas coisas, devem ser feitas para a glória de Deus;
10. Com a palavra, os Apóstolos: Se nenhum dos argumentos acima forem convincentes ainda nos resta a palavra dos próprios apóstolos. Já naqueles dias eles se depararam com este mesmo problema, talvez o problema ainda se apresentasse bem mais complicado. Judeus queriam que todos os estrangeiros obedecessem toda a lei, assim como eles o faziam. O assunto teve que ser debatido em concílio (o primeiro concílio cristão ou concílio de Jerusalém) e o que ficou decidido foi que nenhum mandamento da lei lhes devia ser imposto que observassem, mas lhes foi recomendado apenas que se abstivessem das contaminações dos ídolos, das relações sexuais ilícitas, de comer carne de animais sufocados e do sangue. A narrativa pode ser lida em Atos 15.

Crendo que qualquer destas razões citadas já é suficiente para não sermos sabatistas, mas que nossa atual situação não altera o que está escrito em nenhum dos textos e suas implicações, terminamos por aqui. Caso surjam dúvidas ou comentários relevantes poderemos, se for o caso, fazer novas postagens complementares. Então se as tiverem deixem nos comentários.
Os aguardamos nas próximas postagens.

"Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê." (Rm 10:4)
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.

Bibliografia

- BRITO, Frank. O Shabbath e o Dia do Senhor. Disponível em: https://resistireconstruir.wordpress.com/2014/08/27/o-shabbath-e-o-dia-do-senhor/. Acesso em: 10/09/2018;
- CARSON, D. A at al.; Do Shabbath para o dia do Senhor. Editora Cultura Cristã. São Paulo / SP. 2006. 1ª edição;
- JÚNIOR, Joab Silas da Silva. Trabalho da força constante. Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/trabalho-forca-constante.htm. Acesso em: 29/08/2018;
- ENCICLOPÉDIA JURÍDICA. Disponível em: http://www.enciclopedia-juridica.biz14.com/pt/d/lei-civil/lei-civil.htm. Acesso em: 07/10/2018;
- REPOUSO – MOVIMENTO. Colégio Web. Disponível em: https://www.colegioweb.com.br/fundamentos-da-cinematica-escalar/repouso-movimento.html. Acesso em: 29/08/2018;
- SOARES, Elizangela. ANTIGAS VARIAÇÕES SOBRE A VIDA APÓS A MORTE: Circularidade cultural e religiosa no judaísmo pré-exílico? Oracula, São Bernardo do Campo / SP. 2006. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/oracula/article/view/5903. Acesso em 30/08/2018;
- TIMM, Dr. Alberto. O selo de Deus é o sábado ou o Espírito Santo? Disponível em: http://www.centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-e-respostas-biblicas/o-selo-de-deus-e-o-sabado-ou-o-espirito-santo/. Acesso em: 13/09/2018;
- WRITE, Ellen G. A Igreja Remanescente. Ellen G. White Estate, Inc. 2013. Disponível em: http://www.centrowhite.org.br/downloads/ebooks/. Acesso em: 13/09/2018;

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