segunda-feira, 1 de outubro de 2018

« Sobre a guarda do sábado – Parte 02»

» Série: Aparentes Contradições da Bíblia (01 de outubro de 2018)
“Devemos...
... santificar os sábados ...
(Êx 20:8) Lembra-te do dia do Sábado, para o santificar.
(Êx 31:15) Qualquer que no dia do Sábado fizer algum trabalho, certamente será morto.
(Nm 15:32) ... acharam um homem apanhando lenha no dia de Sábado (...) Então disse o Senhor a Moisés: Tal homem será morto (...) e o apedrejaram até que morreu, como o Senhor ordenara a Moisés.

... ou seguir o exemplo de Jesus e seu Pai?
(Jo 5:8-9) Então lhe disse Jesus: Levanta-te! Toma a tua esteira e anda. Imediatamente o homem foi curado, tomou sua esteira, e pôs-se a andar. Aquele dia era sábado.
(Jo 5:16-17) Assim, porque Jesus fazia estas coisas no Sábado, os judeus o perseguiam. Jesus lhe disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.
(Cl 2:16) Portanto, ninguém nos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou de lua nova, ou de Sábado.”

Obs.: O texto entre as aspas foi transcrito conforme escrito e o texto entre colchetes eu incluí, sendo, estes, os textos referentes aos versículos citados como defesa de sua tese.
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Primeiro preciso fazer uma explicação: chamei esta postagem de parte 02 pois ela é a continuação do assunto sobre o sábado iniciado na série que terminamos na postagem anterior. Se você não acompanhou a primeira parte a encontrarás clicando aqui.

O que digo? Nosso amigo tocou em um ponto que tem, a muito tempo, gerado dúvidas entre os cristãos. Temos que reconhecer a complexidade do assunto já que os maiores teólogos em todos os tempos já falaram sobre ele e mesmo assim o assunto não se esgotou. Seria muita presunção nossa querer esgotá-lo em apenas três curtas postagens em um blog (alguns não tem achado elas tão curtas assim, rsrsrsrs). Nossa proposta é expor o que está na Escritura e como vemos que seja correto; e o querido leitor julgue se fomos coerentes com o que ela nos ensina.
Não abordaremos a questão principal levantada pelo Nosso Amigo nesta postagem, mas precisamos explicar algumas coisas para só depois podermos responde-la de forma clara.
Utilizaremos o termo “Shabbath” ao invés de “sábado”, pois facilitará o entendimento de algumas coisas.
1. A instituição do Shabbath é anterior ao Decálogo
Deus precisou preparar o povo antecipadamente para o quarto mandamento. Tal necessidade mostra que não é fácil mudar a cultura e forma de pensar das pessoas. É preciso algum preparo; algum trato (o processo de santificação é semelhante. Deus começa a mudar o pecador no dia de sua conversão e esta mudança só estará completa no dia de nosso encontro com Cristo). A descrição da instituição do Shabbath encontra-se em Êx. 16. Algum tempo antes de Êx. 20, onde é narrada a entrega “vocal” do Decálogo ao povo. Na verdade, podemos dizer com certeza que o Shabbath foi instituído dezoito dias antes. O entendimento que deviam ter foi mostrado por Deus inclusive de forma prática, com a pausa do envio do maná. Vejamos algumas informações interessantes: A. Deus anunciou o Shabbath aos 15 dias do segundo mês (lembrando que o calendário utilizado por eles, na ocasião, eram de meses de três semanas de dez dias, como já explicamos em postagem citada anteriormente); B. o maná começou a cair no 16º dia e prosseguiu até o 21º dia, sendo portanto, o Shabbath, no 22º dia do segundo mês; C. Deus fala em Êx. 16:4 que já tinha uma Lei estabelecida; D. Deus diz em Êx. 16:28 que o povo se recusa a guardar Suas Leis e; E. Deus fala com o povo no 3º dia do 3º mês para lhes entregar os Dez Mandamentos. Temos então que tocar em alguns pontos aqui: 1. É impossível determinar qual o nome do dia em que aquele ano começou, pois, os dias não tinham nomes, portanto não se pode afirmar que o Shabbath foi instituído exatamente para um dia de sábado. O que podemos determinar é que nenhum dos números apresentados são múltiplos de sete, na verdade, se contarmos como semana de sete dias, seria no primeiro dia da semana, assim a melhor linha é crer que o sábado “passou a existir” a partir de então e; 2. Deus não esperou o Shabbath para falar com o povo. Foi mais significativo utilizar a combinação 3-3 do que esperar o Shabbath, e com isso podemos concluir que o objetivo principal de estabelecer este dia não era uma questão de culto.
2. Para que o Shabbath foi instituído
Antes de abordamos isso precisamos explicar o motivo de tanta rigorosidade e para isso precisamos do contexto em que ele foi instituído. Recomendamos a leitura das primeiras postagens sobre os Dez Mandamentos para entender um pouco da situação em que eles foram entregues. Devido ao grande período de tempo que passaram convivendo com os egípcios, a cultura destes era a base da cultura do povo que agora se formava e uma “desconstrução” era necessária. Além dos contextos que já abordamos precisamos abordar rapidamente mais um: o conceito egípcio de pós vida. Para “viver” na pós vida era preciso três coisas: um comportamento correto, moral e piedoso; ser rico e; prática correta dos rituais, especialmente os de purificação. Somente assim a pessoa garantia uma vida “no céu” junto ao seu deus. O quarto mandamento então era uma forma de Deus dizer que riqueza não era importante e para garantir que seria entendido foram necessárias duas atitudes: uma de determinação de posse e outra de severidade da pena. Por causa desta segunda existe o texto de Ex. 31:15, que é um dos textos apontados pelo Nosso Amigo e que abre esta postagem. A severidade nas sanções não é para punir, mas para se fazer cumprir a lei. Por exemplo, quando você diz a seu filho: “não faça, senão vai apanhar”, você não quer realmente bater nele, certo? Apenas quer que o que foi estabelecido seja cumprido, não é? No entanto quando a ordem é desobedecida a punição se faz necessária para que não venha a transgredi-la novamente; caso contrário não faz sentido algum haver uma ordem. Por este motivo lemos o que está escrito em Nm. 15:32-36 (que também está no início desta postagem). Gostaria de trazer, para que não pensem que Deus seja “horrível”, os dois versículos anteriores ao texto citado, que foi propositalmente “esquecido” pelo Nosso Amigo: "Mas a pessoa que fizer alguma coisa atrevidamente, quer seja dos naturais quer dos estrangeiros, injuria ao SENHOR; tal pessoa será eliminada do meio do seu povo, pois desprezou a palavra do SENHOR e violou o seu mandamento; será eliminada essa pessoa, e a sua iniquidade será sobre ela." [Nm. 15:30-31]. Como podem ver, a punição era para aqueles que sabiam o que estavam fazendo e não para os inocentes.
Além de estar dizendo “a riqueza não é importante” há outros motivos para sua instituição. Vamos ver alguns:
a. Para mostrar-lhes que não eram mais escravos do trabalho;
b. Um dia de repouso das atividades cotidianas para que pudessem repor suas forças;
c. Para se dedicarem a outras atividades e a família;
d. Posteriormente para um dia dedicado ao culto a Deus;
e. Como a Escritura diz que as normas da lei eram sombras das coisas futuras [Hb. 10:1] e celestes [Hb. 8:5], servia para apontar para um descanso futuro em Cristo [Mt. 11:28-29] e um descanso celeste [Hb. 3:11; Hb. 4:1-3, 10-11; Ap. 14:13].
3. Descanso, não ócio
Devido a forma rigorosa de como o Shabbath foi tratado a ideia de ócio acabou prevalecendo entre os hebreus. O que devia ser tido como um sinal de liberdade (sinal da aliança entre estes e Deus) terminou se tornando o motivo de muita discussão. Já falamos como Jesus os abordou e o que não é transgredir o Shabbath. Para explicar porque o ócio é impossível e este entendimento era equivocado, vamos pegar alguns conceitos:
a. Trabalho: na física “é a quantidade de energia gasta na execução de uma atividade” (JÚNIOR);
b. Repouso: na física é “quando o corpo ou objeto não se move do lugar, ou seja, ele fica imóvel, ou seja, se, durante certo intervalo de tempo, o corpo mantém sua posição constante em relação a um referencial” (Colégio Web);
c. Descanso: “cessação de uma atividade; pausa, interrupção” (Houaiss).
Como podemos ver pelas definições acima o Shabbath é uma oportunidade de descanso, uma pausa que nos permite apreciarmos o que tem valor (e não o que tem preço). Mesmo em repouso podemos estar executando trabalho. Então descanso é a melhor alternativa e este entendimento fica claro em Ex. 20:11, quando Moisés relaciona este mandamento a criação, mais especificamente fazendo referência a Gn. 2:2, devido ao fato de que Deus não precisar de repouso e baseado ainda nas palavras de Jesus em Jo. 5:17.
4. Shabbath do Senhor [Ex. 16:23; 20:10]
Este dia ganhou a designação de pertencer ao Senhor e isto foi necessário no contexto da época, mas mal compreendido posteriormente. Porque Deus atribuiu o dia do Shabbath como Seu? Para facilitar o entendimento vamos expor uma alegoria:
Um pai decide comprar para seu filho, que já está “crescidinho”, um videogame. O aparelho é bem caro e o filho tem pouco cuidado com suas próprias coisas. Então o pai compra o videogame, instala em sua TV e chama o filho:
- “Filhão, vamos jogar no videogame do pai”.
No dia seguinte o pai vai sair para trabalhar e o filho pede:
- “Pai, me deixa jogar no seu videogame?”.
O pai que comprou o videogame mais para uso do filho do que o seu próprio, já que seu tempo para tal atividade era bastante escasso, responde:
- “Claro que sim, filho! Só tome cuidado com o videogame do pai para não quebrar”.
Com esta pequena alegoria ficou claro para ti, querido leitor, o motivo de Deus ter atribuído ao Shabbath o título de “Seu”? Ele nos disse: “o sábado é para o homem” [Ex. 16:29; Ez. 20:12; Mc. 2:27] pois é o homem que tem necessidade de descanso. Mas se lhe fosse dado diretamente ele poderia fazer dele o que bem entendesse e o motivo pelo qual ele foi instituído teria sido logo esquecido.

Agora poderemos, na próxima postagem, “atacar” o problema de forma mais direta.

"Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado." [Rm 3:19-20].

DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.

Bibliografia

- BRITO, Frank. O Shabbath e o Dia do Senhor. Disponível em: https://resistireconstruir.wordpress.com/2014/08/27/o-shabbath-e-o-dia-do-senhor/. Acesso em: 10/09/2018;
- CARSON, D. A at al.; Do Shabbath para o dia do Senhor. Editora Cultura Cristã. São Paulo / SP. 2006. 1ª edição;
- JÚNIOR, Joab Silas da Silva. Trabalho da força constante. Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/trabalho-forca-constante.htm. Acesso em: 29/08/2018;
- REPOUSO – MOVIMENTO. Colégio Web. Disponível em: https://www.colegioweb.com.br/fundamentos-da-cinematica-escalar/repouso-movimento.html. Acesso em: 29/08/2018;
- SOARES, Elizangela. ANTIGAS VARIAÇÕES SOBRE A VIDA APÓS A MORTE: Circularidade cultural e religiosa no judaísmo pré-exílico? Oracula, São Bernardo do Campo / SP. 2006. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/oracula/article/view/5903. Acesso em 30/08/2018;
- TIMM, Dr. Alberto. O selo de Deus é o sábado ou o Espírito Santo? Disponível em: http://www.centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-e-respostas-biblicas/o-selo-de-deus-e-o-sabado-ou-o-espirito-santo/. Acesso em: 13/09/2018;
- WRITE, Ellen G. A Igreja Remanescente. Ellen G. White Estate, Inc. 2013. Disponível em: http://www.centrowhite.org.br/downloads/ebooks/. Acesso em: 13/09/2018;

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