segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

📘 Sobre Deus mudar de ideia e se arrepender 📖


» Série: Aparentes Contradições da Bíblia (11 de fevereiro de 2019)
“Deus...
... nunca muda de ideia nem se arrepende do que faz ...
(Ml 3:6) Eu, o Senhor, não mudo.
(Nm 23:19) Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa.
(1 Sm 15:29) Aquele que é a Glória de Israel não mente nem se arrepende; pois não é homem para que se arrependa.
(Ez 24:14) Eu, o Senhor, o disse. Será assim, e o farei. Não tornarei atrás, não pouparei, nem me arrependerei.
(Tg 1:17) Toda boa dádiva e todo Dom perfeito é lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.

... ou, às vezes, volta atrás e se arrepende? ...
(Ex 32:14) Então o Senhor se arrependeu do mal que dissera havia de fazer ao seu povo.
(Gn 6:6-7) Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra, e isso lhe pesou no coração (...) pois me arrependo de os haver feito.
(Jn 3:10) Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria, e não o fez.
(2Rs 20:1-7) Ezequias adoeceu e o profeta Isaías disse: Assim diz o Senhor: Põe a tua casa em ordem, porque morrerás e não viverás. Ezequias orou ao Senhor e chorou muitíssimo. Então o Senhor fez Isaías voltar e falar para Ezequias que tinha ouvido as orações e o curou.
(Gn 18:23-33) Abraão consegue convencer a Deus que não deveria destruir a cidade de Sodoma se lá encontrasse pelo menos 10 justos. No início todos seriam destruídos, justos e ímpios, mas com a interferência de Abraão, que demonstrou ser um excelente argumentador, o Senhor amoleceu o coração e passou a ser mais condescendente. Dos 50 justos que havia falado anteriormente, se conformou em procurar apenas dez.
(1Sm 15:35) E o Senhor se arrependeu de haver posto a Saul rei sobre Israel.
(Jr 18:8-10) Se a tal nação, contra a qual falar, se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe (...) se ela fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha voz, então me arrependerei do bem que tinha dito que faria.”

Obs.: O texto entre as aspas foi transcrito conforme chegou até nós.
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O que digo? Já falamos sobre alguns destes textos na postagem de 03 de novembro de 2015, mas como Nosso Amigo trouxe uma nova abordagem, alguns novos textos e alguns comentários pessoais, vamos voltar ao assunto nesta postagem, entretanto não vamos repetir o que já foi escrito na postagem citada acima; e para o entendimento completo desta é recomendável que a leiam até mesmo antes de continuar esta.

Textos já abordados anteriormente
Dos textos indicados aqui, pelo Nosso Amigo, os listados abaixo já foram abordados na postagem mencionada acima:
a. I Sm. 15:29;
b. Ex. 32:14;
c. Gn. 6:6-7 – Na outra postagem foi citado apenas o vv. 6, mas quem leu o texto deve ter lido também os anteriores e posteriores, o que inclui o 7º. É sempre importante ler cada texto dentro de seu contexto para facilitar o entendimento do que está sendo transmitido;
d. I Sm. 15:35;
O texto de Nm. 23:19 é semelhante ao de I Sm. 15:29 e, portanto, se encaixa no mesmo contexto.

A imutabilidade de Deus (Textos indicados por Nosso Amigo: Ml 3:6 e Tg 1:17)
Vamos primeiro trazer o texto completo de Ml. 3:6, pois Nosso Amigo não o colocou: “Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos.
Como podem ter percebido, nenhum dos dois textos fala sobre Deus mudar de ideia sobre algo, mas sim de que seus atributos não mudam. Já falamos um pouco sobre isto na postagem de 04 de setembro de 2017 pois foi necessário devido ao contexto do assunto lá tratado (vale a pena dar uma olhada lá).
Também não foi citado por Nosso Amigo nenhum texto que fosse contraditório a estes; logo não vamos nos alongar nestes dois vv. Mas queremos aproveitar para falarmos do texto do vv. citado de Malaquias. Ele nos mostra que é justamente porque Deus não muda, nem em seus atributos, nem em seus planos, nem em suas ordenanças, que ainda estamos vivos. Veja o que o profeta Jeremias diz: "As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã." (Lm. 3:22-23a), de sorte que caso Ele fosse instável como nós somos, tudo já teria sido destruído, pois bastaria que Ele retirasse de nós o Seu cuidado.
Condicionalidade (Textos indicados por Nosso Amigo: Ez 24:14 e Jr 18:8-10)
Vamos primeiro trazer o texto de Ez. 24:14 completo, pois Nosso Amigo sempre “esquece” de os colocar quando estes mostram que seu entendimento está errado: “Eu, o SENHOR, o disse: será assim, e eu o farei; não tornarei atrás, não pouparei, nem me arrependerei; segundo os teus caminhos e segundo os teus feitos, serás julgada, diz o SENHOR Deus". O texto de Jeremias, apesar de iniciar no vv. 7 e estar faltando o vv. 9 na exposição do Nosso Amigo o que foi apresentado é suficiente para o entendimento correto, que, claro, é diferente do que Nosso Amigo quer induzir seus leitores.
Nas Escrituras encontramos dois tipos de “falas” de Deus: 1. As incondicionais e; 2. As condicionais.
As incondicionais são aquelas que Deus não pode e não vai deixar de cumprir, pois isto afetaria diretamente seus atributos imutáveis, e, caso isto acontecesse, Ele não seria Deus.
As condicionais, que é o caso dos textos apontados nesta parte, se modificam de acordo com as ações e escolhas de cada pessoa ou povo. Veja que nestas sempre há uma escolha e uma ação a serem tomadas para que seja então definida a forma como Deus agirá, sendo que Ele sempre agirá dentro daquilo que foi estabelecido e nunca fora disso. De forma que não há arrependimento da parte de Deus, já que agirá dentro daquilo que Ele disse que faria. Vejamos isto nestas duas passagens:
I. No texto de Ezequiel lemos: “... segundo os teus caminhos e segundo os teus feitos, serás julgada...” e é isto que define se Deus fará bem ou mal e baseado nisto, diz: “... será assim, e eu o farei; não tornarei atrás, ... nem me arrependerei...”;
II. No texto de Jeremias também lemos que Deus agirá desta forma: se a pessoa ou nação estiver em pecado e Deus avisar que irá os destruir, caso se arrependam, Ele não os destruíra. Se Ele disser que os fará prosperar e a pessoa ou nação começar a fazer o que é mal, Ele não mais os fará prosperar.
Dentro desta condicionalidade não é correto dizer que Deus se arrepende de algo que disse ou fez, pois, como dissemos, são estas as Suas palavras e fugir disso afetaria também seus atributos, em especial, sua justiça, pois, de forma alguma, Ele recompensará aqueles que fazem o mal e nem trará destruição àqueles que andam em justiça (estamos aqui falando, evidentemente, de forma geral e não estamos levando em consideração casos particulares que fogem a esta regra).
Temos muitos casos de promessas e ações condicionais na Bíblia e o texto de Jn. 3:10 indicado por Nosso Amigo na abertura desta postagem é um deles.

Má interpretação de textos é um problema sério (Textos indicados por Nosso Amigo: 2Rs 20:1-7 e Gn 18:23-33)
Vamos abordar cada texto separadamente para mostrarmos onde estão os erros na interpretação de Nosso Amigo:
A. II Rs. 20:1-7: Neste texto, que também é relatado em II Cr. 32:24-26 e Is. 38:1-7, vemos o Rei Ezequias, então rei de Judá, sendo acometido de uma grave doença; doença esta que foi transmitida de forma natural e não algo causado por uma ação direta de Deus. Pela sua posição e devido a suas ações durante seu reinado Deus envia o profeta Isaías para lhe dizer para escolher seu sucessor, pois morreria por causa daquela doença, e, me parece, que ele esperava ainda viver por muito tempo; no entanto ainda não tinha pedido a Deus que lhe curasse. Após a visita do profeta ele ora a Deus que se lembre de que fora fiel (os últimos reis haviam sido infiéis e maus). Diante disto Deus envia o profeta de volta para dizer que ele viveria por mais quinze anos e que os Assírios seriam derrotados. Na interpretação de Nosso Amigos há alguns problemas, entre eles:
1. Deus não disse que iria matar a Ezequias, mas lhe enviou um alerta do que era natural: por causa da doença ele morreria;
2. Deus não se comoveu pelo choro de Ezequias, mas a oração de Ezequias foi “uma cobrança” por ter sido fiel. Desta forma Deus decidiu atende-lo e lhe deu sua recompensa alongando sua vida. O resultado disto foi Ezequias atiçar a cobiça dos babilônicos, o que levou o povo ao exílio;
3. Segundo o Nosso Amigo, Deus voltou atrás em Sua palavra ou mudou de ideia quanto a morte de Ezequias, mas isto não aconteceu, pois Deus não determinou nada neste sentido, isto é, não havia lhe decretado uma punição por algo que tivesse feito, antes, aquela situação foi o caminho para o cumprimento dos planos eternos de Deus.

B. Gn. 18:23-33: A interpretação de Nosso Amigo deste texto foi ainda pior, pois distorceu muito a narrativa. Para o entendimento correto temos que entender todo o contexto. Vamos aos pontos principais:
I. Já fazia muitos anos que Ló, sobrinho de Abraão, morava em Sodoma e acreditava que ele não se envolveria com as maldades do povo daquele lugar (Gn. 13);
II. Também já fazia alguns anos que Abraão salvara a Ló e habitantes de Sodoma quando esta cidade havia perdido uma batalha. Nesta ocasião ele teve contato com o rei de Sodoma e sua comitiva e considerou, por este rápido encontro, que ao menos as pessoas que estiveram ali eram justas (Gn. 14);
III. O Senhor acabara de lhe dizer que ele seria pai aos cem anos de idade, tendo Sara cerca de noventa anos (Gn. 17:17);
Peço que leiam o texto indicado por Nosso Amigo em suas Bíblias para que possamos verificar juntos os erros da interpretação dele. Eis quais são:
1. Abraão não conseguiu convencer Deus de coisa alguma. Deus disse que ia destruir as cidades e assim o fez;
2. Deus em nenhum momento destruiu justos e ímpios por causa dos pecados dos ímpios, nem nunca disse que o faria. Podemos citar como exemplo os casos da Arca de Noé, onde toda a humanidade foi destruída com exceção de oito pessoas e o caso de Jericó, onde toda a cidade foi destruída com exceção de Raabe, seu pai, sua mãe e seus irmãos (cujo número não foi registrado, mas podemos supor que não chagariam a sete, já que esta é uma quantidade muito grande para a época e lugar onde viviam). Logo é absurdo dizer que Deus iria destruir todos juntos, como afirmou Nosso Amigo;
3. A interferência de Abraão não fez Deus mudar de ideia, os argumentos de Abraão não foram excelentes e Deus não se tornou condescendente.
Vejamos então o que diz o texto e qual o entendimento correto:
A. Deus que decide contar a Abraão que a maldade em Sodoma e Gomorra tem se multiplicado (Gn. 18:17-20);
B. Deus acrescenta que irá ver se realmente a maldade deles está muito grande (Gn. 18:21);
C. Depois que os homens partiram foi que começou o diálogo entre eles sobre a situação da cidade (Gn. 18:22);
D. Abraão conhecia a Deus por causa do relacionamento que já tinham e deduziu sozinho que, se fosse constatado maldade naqueles lugares, eles seriam destruídos (Gn. 18:23);
E. A primeira pergunta de Abraão foi: “Destruirás o justo com o ímpio?” (Gn. 18:23). Seu intuito era sondar a justiça de Deus, pois Ele seria injusto ao atribuir punição aqueles que não as mereciam. Em seguida complementa: “Se houver, porventura, cinqüenta justos na cidade, destruirás ainda assim e não pouparás o lugar por amor dos cinqüenta justos que nela se encontram?” (Gn 18:24) e isto para verificar a extensão da longanimidade de Deus;
F. O próprio Abraão concluiu que Deus não faria tal coisa: matar o justo com o ímpio (Gn. 18:25);
G. Deus então revela que não destruiria a cidade se lá fosse encontrado cinquenta justos (Gn. 18:26);
H. Abraão começa a reduzir a quantidade de pessoas justas na cidade para descobrir qual o tamanho do amor, longanimidade e justiça de Deus (Gn. 18:27-33);
I. O que Abraão queria era conhecer melhor a Deus. Saber quais seus atributos e assim poder confiar ainda mais em Sua Palavra. O primeiro número escolhido por ele (cinquenta) em duas cidades que teriam, estimo, cerca de cinquenta mil pessoas, era um número bem pequeno (0,1%), mas devia estar próximo da quantidade de pessoas da cidade de Sodoma com as quais Abraão teve algum contato a alguns anos. Ao reduzir progressivamente este número até chegar em dez pessoas pode confiar ainda mais em Deus, e não mais duvidou de Sua Palavra, chegando ao ponto de, posteriormente, não se ressentir com o pedido de Deus de sacrificar seu filho Isaque.
J. Todo este diálogo mudou, ou melhor, fortaleceu o pensamento de Abraão e não, como Nosso Amigo disse, o pensamento de Deus em relação àquelas cidades ou ao pecado. O que este texto nos mostra dos atributos de Deus devia ser suficiente para confiarmos inteiramente n’Ele todos os dias de nossas vidas.

Assim encerramos mais esta postagem, crendo que tenha ficado claro que não há contradições entre os textos apresentados. Os aguardamos nas próximas postagens.

"Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador?" (1Pe 4:17-18).
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.

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