segunda-feira, 3 de abril de 2017

« Série: Aparentes Contradições da Bíblia » (03 de abril de 2017)

- Jairo disse a Jesus que sua filha tinha morrido ou que estava para morrer?

Continuando sobre as contradições apontadas, na sequência que estão escritas, vamos ver o que foi dito sobre o centurião que estava com um criado doente ter ou não falado pessoalmente com Jesus:

“Jairo pediu a Jesus que ajudasse a sua filha, que estava morrendo (Lucas 8:41-42). [Eis que veio um homem chamado Jairo, que era chefe da sinagoga, e, prostrando-se aos pés de Jesus, lhe suplicou que chegasse até a sua casa. Pois tinha uma filha única de uns doze anos, que estava à morte. Enquanto ele ia, as multidões o apertavam.]”.
“Ele pediu para que Jesus salvasse a filha dele que já havia morrido (Mateus 9:18). [Enquanto estas coisas lhes dizia, eis que um chefe, aproximando-se, o adorou e disse: Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem, impõe a mão sobre ela, e viverá.]”.

Obs.: O texto entre as aspas foi transcrito conforme escrito e o texto entre colchetes eu incluí, sendo, estes, os textos referentes aos versículos citados como defesa de sua tese.

O que digo? Para explicarmos o motivo desta diferença temos que conhecer um pouco o contexto geral do momento e situação e para isso temos que usar todos os evangelhos. Traçaremos alguns pontos e a explicação em duas hipóteses.
Ponto 01. Jairo era um dos chefes (ou principais) da sinagoga e, como Jesus vinha constantemente criticando-os. Estavam perdendo a influência no meio do povo pois grande multidão O seguia por causa dos milagres e ensinamentos, e tentavam, os líderes da sinagoga, desacreditar a Jesus perante o povo e, em muitos momentos, usaram de artimanhas tentando o incriminar. Portanto mesmo aqueles que reconheciam que Jesus era o Cristo estavam divididos entre sua posição e sua fé. Para Jairo, ir encontrar com Jesus, significava ser confrontado por seus “colegas” e, provavelmente, perder seu cargo e influência. Vemos por exemplo no encontro de Nicodemos com Jesus que este foi ter com ele a noite, as escondidas (Jo. 3:1-2). Para ele ir ao encontro de Jesus teria que acontecer algo (ou com quem) que fosse mais importante para ele que sua posição.

Ponto 02. Os milagres realizados por Jesus rapidamente se tornavam conhecidos e estes eram a referência de que Ele era Deus (Mt. 11:2-5; Lc. 7:18-23; Jo. 5:36; Jo. 10:25; Jo. 10:32-38; Jo. 14:10-11; Jo. 15:24). Será necessário fazer uma lista dos milagres que provavelmente já tinham sido contados a Jairo pois foram estes relatos que lhe deram certeza que Jesus era sua única saída (estamos supondo que todos os fatos relatados antes do encontro de Jairo com Jesus já haviam ocorrido). Jesus já tinha:
- Realizado os milagres que ficaram conhecidos como a transformação da água em vinho e o da pesca maravilhosa (Lc. 5:6; Jo. 2:3)
- Curado diversas pessoas com as mais variadas enfermidades e moléstias na Galileia (Mt. 4:23; Mc. 1:34; Lc. 4:40-41) e também de outras regiões (pois sua fama se espalhava rapidamente (Mt. 4:24; Mt. 8:16; Mc. 3:10-11; Lc. 6:17-19);
- Havia expulsado demônios (Mt. 4:24; Mt. 8:16; Mc. 1:23, 25-26; Mc. 1:34; Lc. 4:33-35);
- Curado leprosos (lembrando que os leprosos ficavam separados do convívio com os sãos pois era uma doença contagiosa e que não havia cura [devido também ao fato de que estavam, os doentes, constantemente em contato com outros doentes raramente alguém ficava bom], exceto por milagre de Deus [vide textos em Lv. 13 e 14 {que é a lei sobre as doenças de pele e pragas}; Nm. 10:12-16) tocando-os, o que era impensável (Mt. 8:2-3; Mc. 1:40-41; Lc. 5:12-13);
- Curado gravemente acidentado à beira da morte (Mt. 8:6, 13; Lc. 7:2);
- Curado de febre, pois naqueles dias em que não haviam antitérmicos e antipiréticos e pessoas morriam devido a isso (Mt. 8:14; Mc. 1:30-31; Lc. 4:39);
- Curado paralítico (Mt. 9:2; Mc. 2:3-5; Lc. 5:18-20);
- Feito parte do corpo com má formação se restaurar (Mc. 3:1-5; Lc. 6:10);
- e ressuscitado morto (Lc. 7:14).

Ponto 03. Jesus havia retornado, de barco, da cidade de Gadara e grande multidão, que o esperava (Lc. 8:40), foi O encontrar junto ao mar (Mc. 5:21). Jesus ensinava a multidão e a notícia que Jesus havia retornado chegou até Jairo e este saiu para O encontrar. Ao encontrá-Lo prostrou-se aos pés de Jesus, adorando-O (Mt. 9:18; Mc. 5:22), feito que mostrava que reconhecia que Ele era Deus (pois os judeus só adoram a Deus) e lhe contou o problema que estava passando, insistindo para que Jesus o acompanhasse até sua casa (Mc. 5:23; Lc. 8:41) e Jesus foi com ele (Mt. 9:19; Mc. 5:24). Enquanto caminhavam para a casa de Jairo a multidão os acompanhava e as pessoas queriam tocar em Jesus de forma que não era tão fácil seguir (Mc. 5:24; Lc. 8:42). Neste tumulto uma mulher que a doze anos sofria de um problema de saúde (Mc. 5:25; Lc. 8:43) também tocou nas vestes de Jesus (Mt. 9:20; Mc. 5:27; Lc. 8:44). Ela foi curada de imediato (Mc. 5:29) mas Jesus, sentindo que lhe saiu poder (Mc. 5:30), parou de caminhar e procurou saber quem O havia tocado (Mc. 5:30). Os discípulos argumentavam que era impossível saber quem, especificamente, lhe havia tocado já que muita gente estava fazendo isso a todo instante e de qualquer maneira (Mc. 5:31; Lc. 8:45). No entanto Jesus procurava a pessoa (Mc. 5: 32; Lc. 8:46) e a mulher se apresentou (Mt. 9:22; Mc. 5:33; Lc. 8:47). Falava ainda Jesus com a mulher quando se aproximou algumas pessoas (que vinham da casa de Jairo) e um deles falou com Jairo (Mc. 5:35; Lc. 8:49). Jesus, no entanto, ouviu a conversa e ignorou o comentário dizendo a Jairo que não temesse, apenas cresse (Mc. 5:36; Lc. 8:50).

Este é o cenário em que se passou a narrativa e agora podemos montar as duas hipóteses para esta aparente contradição onde todas duas justificam, de forma diferente, as palavras utilizadas por Mateus já que Marcos e Lucas disseram a mesma coisa sobre as falas.
Hipótese A. Podemos ver em vários trechos do livro de Mateus, ao compararmos com os demais evangelhos, que ele era bastante prático, não mencionando com detalhes certos acontecimentos. Para ele algumas coisas eram irrelevantes e outras estavam implícitas, mas acima de tudo ele era muito técnico. A falta de detalhes em determinados momentos pode ter se dado devido (também) a questão do espaço disponível para escrever, a qual já mencionamos na postagem de 20 de janeiro de 2017. Mas mesmo com esta “limitação de detalhes” em algumas partes o evangelho de Mateus é o maior dos evangelhos (se desconsiderarmos os trechos de Lucas em que ele fala sobre João Batista e alguns detalhes sobre o nascimento e infância de Jesus que não foram citados nos outros evangelhos). Para Mateus mudar as palavras de Jairo ele levou em consideração o tempo gasto para Jairo chegar até Jesus, o tempo que caminharam indo em direção a sua casa e o momento que as pessoas chegaram dizendo que sua filha estava morta. Assim ele pode deduzir que, tecnicamente, quando Jairo falou com Jesus ela já tinha morrido. Desta forma ele pode mudar as palavras iniciais de Jairo sem prejuízo da verdade e economizar algum espaço. Para ficar claro a questão de espaço Marcos relatou este acontecimento em 23 versículos, Lucas em 17 e Mateus em apenas 9.
Hipótese B. Os Judeus, assim como todo mundo, sabem que “a jeito para tudo na vida, menos para a morte” (parafraseando um dito popular português), ou seja, praticamente todos que ouviram falar de Jesus ter ressuscitado uma pessoa não criam que isso tivesse acontecido. No entanto Jairo cria nisso e sabia que Jesus podia ressuscitar sua filha. Ele não queria que sua filha morresse, mas apenas sua morte o faria ir procurar a Jesus. Enquanto ela estava viva, mesmo prestes a morrer, sua posição ainda era mais importante e torcia para que os médicos pudessem salvá-la. Também o fato de Jesus estar em outra parte a qual ele não podia entrar em contato colaborou com a espera excessiva. Então quando ela faleceu ele ficou com um problema: Como dizer a Jesus, que estava acompanhado, geralmente, por muita gente, que sua filha estava morta e que esperava que Ele a ressuscitasse? Certamente a multidão seria contra, e teria ele perdido, além da filha e da sua posição social, a credibilidade mental. Ao olharmos a ressurreição de Lázaro, narrada em Jo. 11, vemos trechos como os dos vv. 24, 32 e 37 que mostram como não se acreditava na possibilidade da ressurreição imediata. Assim a saída era chamar Jesus para a cura-la e Mateus escreveu o texto desta forma para que saibamos que Jairo já sabia que ela estava morta ao sair de casa. Esta hipótese é reforçada se vermos que aqueles que vieram da casa de Jairo o vieram criticar, e não avisar, e também o fato de que quando lá chegaram os preparativos para o funeral já estava em andamento (Mt. 9:23).

Assim, qualquer das duas hipóteses explica esta aparente contradição. Para encerrarmos quero fazer uma observação que serve também como conselho e como critica. A versão da Bíblia chamada de Tradução do Novo Mundo (TNM) fez uma alteração ao texto de Mt. 9:18 (além de outras alterações sutis em outros trechos) o que descaracteriza o texto. É a única versão entre as mais de trinta que disponho que diz: “Minha filha, agora, já deve estar morta”. Assim, como já fizemos na postagem de 12 de setembro de 2016 sobre uma alteração feita na NVI no contexto da postagem em questão, evitaremos ao máximo a utilizar e não os aconselhamos o uso destas versões, pois este tipo de expediente é inaceitável.

Os aguardamos nas próximas postagens.

"Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá;" (Jo. 11:25).
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva

Técnico em Informática, Licenciado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.

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