quarta-feira, 6 de março de 2019

✨ Verdade Absoluta, Verdade Relativa, Meia-Verdade e Mentira ✨

» Cosmovisões – Parte 02 (06 de março de 2019)

INTRODUÇÃO
Como nossa cosmovisão pessoal é formada a partir de pressupostos formados pelos caracteres de verdade encontrados naquilo que nos chega ao conhecimento, é necessário, então, sabermos como reconhecer se aquilo que cremos como verdade realmente o são. Queremos mostrar nesta postagem o que é cada uma das verdades bem como a mentira; e como é possível, de forma geral, a partir de alguns exemplos particulares, identifica-las. Saber identifica-las é primordial na composição de nossa cosmovisão pessoal.
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A VERDADE IMPORTA
Mesmo que comumente vejamos pessoas dizerem que não estão preocupadas com a verdade, ao menos não com o que outras pessoas dizem ser a verdade, este discurso é uma mentira. Todos estão preocupados com a verdade e, digo ainda mais, de estar posicionado nela. Tudo que fazemos é, naturalmente, firmado no princípio de que estamos situados na verdade absoluta, ou seja, que a conhecemos e a contemos.

O MAIS FUNDAMENTAL
Uma cosmovisão é composta por um conjunto de ideias. Todas estas ideias tendem a seguir um certo fluxo que busca evitar a contradição, isto é, as ideias costumam se alinhar de forma que a cosmovisão seja coerente em todas as suas ideias. Como diz SIRE: “Uma cosmovisão é composta de uma série de pressuposições básicas, mais ou menos consistentes entre si, mais ou menos conscientemente defendidas, mais ou menos verdadeiras”. Para que isto ocorra é preciso do que chamaremos aqui de “unidade básica da cosmovisão”, que são as definições. Vale ressaltar que utilizaremos mais o conceito matemático, por ser mais rígido, do que o linguístico.
As definições são conceitos extremamente básicos e intuitivos que não precisam ser explicados para serem entendidos como verdade e “geralmente essas pressuposições não são questionadas por cada um de nós, raramente ou nunca são mencionadas por nossos amigos” (SIRE). São tão fundamentais que é praticamente impossível haver uma posição diferente, ou seja, você só vai poder aceitar ou recusar aquilo como verdade. No campo da filosofia é bem difícil citar exemplos, mas no campo da matemática podemos citar alguns exemplos e usaremos o trabalho de Euclides, “Os Elementos”, para apresentar alguns apenas para facilitar a compreensão:
I. Ponto é o que não tem partes ou o que não tem grandeza alguma;
II. Linha é o que tem comprimento sem largura;
III. As extremidades da linha são pontos;
Isto é necessário porque precisamos “entender duas características centrais das cosmovisões: seu caráter pressuposicional e suas possíveis respostas à pergunta mais fundamental que podemos fazer” (SIRE). A primeira deve ser tomada como o elemento primordial que sustenta todas as outras coisas e, portanto, deve ser pautada na verdade absoluta, e a segunda deve ser tomada como um axioma, que explicaremos mais à frente.
Esta primeira ainda tem “duas características primárias: A primeira é o fato que nossos compromissos fundacionais primários são apenas isto – compromissos, isto é, pressuposições. São aquelas coisas a que chegamos quando não podemos mais explicar porque dizemos o que dizemos. A segunda é o caráter da pergunta” (SIRE) que se faz, como “o que é o caso” e não “como sabemos ou acreditamos que é o caso”, por exemplo: “porque existe algo em vez de nada?” e não “como você entende que algo surgiu?”.
Precisamos então definir algumas coisas fundamentais e isto porque “essencialmente, cosmovisão é um conjunto de pressuposições (suposições que podem ser verdadeiras, parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas) que sustentamos (consciente ou subconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre a constituição básica de nosso mundo” (SIRE).
POSTULADOS
A partir destas “unidas básicas da cosmovisão” postulamos algumas coisas, isto é, admitimos que alguns conceitos são tão básicos que não precisam ser explicados. Já os aceitamos como verdade por serem decorrentes das definições. Estes conceitos, entretanto, são extremamente importantes pois serão como que regras impostas para provarmos que as ideias são verdadeiras. Citando como exemplo dois dos postulados de Euclides: “podemos ligar dois pontos por uma linha reta” e “uma linha reta pode ser estendida até onde seja necessário”. Como podem perceber, os postulados utilizam as definições para se mostrarem verdadeiros.
Decerto que o que estamos dizendo aqui pode parecer estranho e fazer pouco sentido dentro do assunto Cosmovisões, mas, será necessário para definirmos verdade e mentira, visto que não se constrói uma casa de alvenaria sem empilhar tijolos.

AXIOMAS
Os axiomas são conhecidos pela maioria das pessoas como “noção comum”, isto é, algo que é aceito por todos como verdade sem que seja preciso explicar porque isto é verdade. São tão óbvias que negá-las seria um disparate. Facilmente você se deparará com elas no seu dia a dia, mas vamos continuar usando como exemplo os do Euclides:
- “O todo é maior do que qualquer das partes”;
- “As cousas que são iguais a uma terceira, são iguais entre si”;
- “As metades de uma mesma quantidade são iguais”;
Todos estes (definições básicas, postulados e axiomas) são tão fundamentais que os aceitamos intuitivamente, no entanto, ao ser recusado é preciso que seja exposta um conceito que possa ser verdadeiro, a recusa do axioma apresentado pode implicar em um erro muito antes dele próprio. E não pode existir um meio termo, ou seja, ele só pode ser verdadeiro (verdade) ou falso (mentira). Vamos para um exemplo mais dentro do assunto: por definição os teístas dizem que Deus existe, enquanto que os ateístas, que entendem que esta definição é falsa, entendem, por consequência, que Deus não existe. Como as duas não podem estar certas, uma delas será verdade e a outra, portanto, será mentira; e também não existe meio-termo. Não é possível dizer: “Deus existe em parte” ou “Deus meio que não existe”. O que pode mudar é o conceito do que seja Deus, não sua existência ou não existência. Quando formos falar do teísmo e ateísmo como cosmovisões detalharemos mais o assunto.

PROPOSIÇÕES
Agora vamos tomar alguns conhecimentos da argumentação matemática que nos ajudará a distinguir as verdades e as mentiras, que é a forma como se trata as proposições.
Proposições são sentenças, geralmente não longas e que trazem um sentido completo. Em geral a construção das proposições não são objeto de questionamento, mas sim, se ela é verdadeira ou falsa. As proposições também podem ser (além de verdadeiras e falsas): afirmativas ou negativas.
As duas “classes” são independentes, isto é, uma proposição negativa pode ser verdadeira enquanto que uma proposição afirmativa pode ser falsa. Vamos tratar aqui, apenas por facilidade, que toda afirmativa é no sentido de “ocorre” e toda negativa no sentido de “não ocorre”. Vamos para os exemplos:
- Proposição afirmativa: “Chove”;
- Negação da afirmação ou proposição negativa: “Não chove”;
E:
- Proposição verdadeira: “O sol é quente”;
- Proposição falsa: “O sol é gelado”;
E ainda:
- Proposição negativa verdadeira: “Planetas não são estrelas”;
- Proposição afirmativa falsa: “Planetas são estrelas”.
Dentro destes princípios podemos agora dizer que uma proposição é verdade (verdadeira) ou mentira (falsa) e isto independe se a proposição é uma afirmação ou uma negação. Então vamos adiante.

VERDADE ABSOLUTA, VERDADE RELATIVA, MEIA-VERDADE E MENTIRA
Primeiro aos conceitos:
- Verdade absoluta: é uma proposição verdadeira independente de aceitação, verificação ou comprovação. Não é afetada pela verdade relativa ou pela meia-verdade, isto é, ela sempre existirá mesmo que não a possamos evidenciar;
- Verdade relativa: é uma proposição que pode ser verdadeira dependendo de fatores (geralmente de perspectiva) entre indivíduos. Entre as verdades relativas haverá apenas uma verdade absoluta, mesmo que não evidenciada, e todas as demais serão mentiras (quando e se a verdade absoluta for evidenciada). Entendendo “universo” como item analisado, não pode haver duas verdades absolutas no mesmo “universo”. Caso seja identificada duas verdades absolutas pode haver duas causas: 1. É a mesma verdade absoluta descrita de forma diferente ou; 2. Está sendo analisado dois “universos” distintos, mesmo que interdependentes ou subsequentes;
- Meia-verdade: é uma sentença deliberadamente incompleta, isto é, uma afirmação que omite parte dos fatos ou informações com intuito de fazer o receptor chegar a uma verdade baseado em suas próprias pressuposições e não nas do locutor;
- Mentira: é o oposto da verdade absoluta ou, melhor dizendo, tudo que não seja verdade.
Vamos entende-las a partir de exemplos.

A XÍCARA
A imagem ao lado representa uma xícara real e a partir dela vamos trazer proposições diversas que exemplificam os itens anteriores.
1. Verdade absoluta: “Esta xícara tem asa”;
2. Verdade relativa: “A asa desta xícara está do lado esquerdo”;
3. Mentira: “Esta xícara não tem asa”;
4. Meia-verdade: “O conteúdo da xícara é para beber”.
Pelas proposições apresentadas acredito que os itens ímpares (1. e 3.) não precisam de maiores esclarecimentos, enquanto que os itens pares (2. e 4.) precisam de mais alguma coisa para serem compreendidos bem por todos. Estas proposições têm o conteúdo que representa cada um dos itens.
A verdade absoluta será uma proposição inegável por qualquer pessoa em seu tino perfeito.
A verdade relativa pode ser questionada caso alguém esteja posicionado em algum lugar que lhe dê uma perspectiva distinta do locutor, por exemplo, se o receptor estiver olhando a xícara em posição diferente do locutor ele poderá entender que a asa da xícara esteja à direita ou mesmo atrás (caso ele não a esteja vendo). Para que a verdade relativa se torne uma verdade absoluta seria necessário então que o locutor complementasse (ou refizesse) a proposição, que poderia ficar mais ou menos assim: “A asa da xícara está do meu lado esquerdo”. Desta forma todas as outras formas de ver a asa da xícara seriam mentiras, deixando de existir a verdade relativa, já que a relativização foi anulada.
A mentira pode ser a negação da verdade absoluta, a insistência da relativização da verdade absoluta ou uma proposição impossível ou inconcebível, por exemplo, na proposição: “A asa da xícara está do lado de dentro”. Sendo anulada a impossibilidade ou inconcebilidade por meio de evidências, deixará de ser mentira e passará a ser verdade. Estas evidências, no entanto, devem ser incontestáveis para que seja uma verdade absoluta. Como explicamos na postagem anterior, algumas evidências são questionáveis ou insuficientes e, nestes casos, se enquadrarão em verdade relativa.
A meia-verdade é a mais difícil de reconhecer e também a mais perigosa e mais utilizada pelos mal-intencionados. No exemplo citado se você bebe o líquido da xícara você morre. Isto porque é um veneno muito forte. Logicamente se você não conhecesse a pessoa que estivesse lhe oferecendo você não beberia sem perguntar antes, mas ela é perigosa justamente por causa disso: porque geralmente confiamos nas pessoas que as utilizam e elas geralmente as utilizam para evitar que nos decepcionemos com elas. Entretanto o mau causado é muito maior do que dizer a verdade. Costumo dizer que toda meia-verdade, por ser uma forma de ocultar a verdade para se ter algum proveito indevido, é uma completa mentira.

O MAIOR EXEMPLO DA MEIA-VERDADE
Poderíamos citar muitos exemplos de meia-verdade. Mas vamos ficar apenas como a mais conhecida e também a mais fatídica que é a que está descrita no livro do Gênesis. Em Gn. 2:16-17, lemos Deus dando ordem ao homem para não comer do fruto de determinada árvore que foi plantada no jardim. Desobedecer, lhe causaria a morte. Em Gn. 3:1-6 lemos um diálogo entre a mulher e a serpente. Após a mulher explicar à serpente a ordem de Deus e o que aconteceria em caso de desobediência “a serpente disse à mulher: é certo que não morrereis” (vv. 4). Ao terem comido do fruto daquela árvore; morreram, primeiro espiritualmente, tendo morrido para Deus, perderam sua comunhão com Ele, e, posteriormente, a morte física.

Cremos que tudo que foi colocado aqui foi compreendido, mas, caso não, deixem suas dúvidas, críticas, sugestões e opiniões nos comentários e, se for proveitoso para todos, abordaremos na próxima postagem desta série. Agora que estamos melhores preparados para identificar quais proposições podem, ou não, serem verdadeiras, a partir delas veremos como saber se nossa forma de pensar também são lógicas e verdadeiras. Até a próxima!

"Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram." (Rm 5:12)
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.


Bibliografia

- COMANDINO, Frederico. Euclides – Elementos de Geometria. São Paulo: Edições Cultura, 1944;
- SIRE, James W. Dando nome ao elefante: Cosmovisão como um conceito. 2ª edição. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2012;

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