segunda-feira, 29 de abril de 2019

✨ Argumentação – a base da filosofia ✨

» Cosmovisões – Parte 03 (29 de abril de 2019)

INTRODUÇÃO
Agora que sabemos que existem verdades absolutas e relativas, meias-verdades e mentiras e como já conhecemos um pouco do caminho de como as identificar, precisamos agora entrar na seara do raciocínio lógico, que é o uso coordenado de proposições com intuito de formar um argumento. Como você leu no título a argumentação é a base da filosofia. Como PADRÃO escreveu: “argumentação é o coração da filosofia”, logo, sem bons e verdadeiros argumentos, a filosofia não passa de tentativa de manipulação.

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O QUE É ARGUMENTAÇÃO
Argumentação é um conjunto de proposições que visam justificar algum ponto de vista. Os argumentos mais comuns são formados por duas premissas e uma conclusão, mas não limitados a isso, e deve seguir princípios dos quais dois serão muito utilizados (trataremos deles mais à frente). As premissas podem ser vistas como razões que justificam a conclusão. Trazendo um exemplo dado por GEISLER & TUREK:
1. Todos os homens são mortais.
2. João é um homem.
3. Portanto, João é mortal.

PREMISSAS VERDADEIRAS OU FALAS
Como você deve ter notado as premissas são cada proposição ou afirmação dada em um argumento. Elas podem ser verdadeiras, quando a afirmação é uma verdade absoluta, ou falsa, quando a afirmação é uma mentira. As postagens anteriores mostram os princípios para as identificar, mas é indispensável o estudo crítico das informações recebidas para as identificar bem.
As premissas são as partes que antecedem a conclusão de um argumento e estes (os argumentos) podem ser válidos ou inválidos.
ARGUMENTAÇÃO VÁLIDA
O argumento é considerado válido quando a conclusão tem relação com as premissas. O exemplo que foi citado acima é de um argumento válido. Mesmo que alguma das premissas sejam falsas o argumento pode ser válido, como no exemplo abaixo dado por PADRÃO:
1. Todos os números primos são pares.
2. Nove é um número primo.
3. Logo, nove é um número par.

ARGUMENTAÇÃO INVÁLIDA
Um argumento será inválido quando a conclusão não estiver ligada as premissas ou apesar das premissas serem verdadeiras a conclusão é falsa. Por exemplo:
1. Se fizer sol irei a praia.
2. Faz sol.
3. Então eu vou ao cinema.
Neste argumento apensar de premissas e conclusão serem verdadeiros este argumento não é válido pois a conclusão não está de acordo com as premissas. O outro exemplo:
1. Imortais não morrem.
2. Os vampiros são imortais.
3. Logo, vampiros não morrem.
Como podem ver, o argumento é inválido porque apesar de vampiros (na ficção, claro) serem chamados de imortais, eles morrem.

PARA FACILITAR
Para facilitar nossa vida a partir deste ponto chamaremos o argumento inteiro de verdade ou mentira. Se um argumento for o que PADRÃO chama de “argumento sólido”, isto é, um argumento que possui premissas e conclusões verdadeiras, chamaremos de verdade (absoluta ou relativa). Se o argumento for inválido ou tiver ao menos uma premissa falsa, chamaremos de mentira (também passaremos a tratar as meia-verdades como mentiras).

PRINCÍPIOS DA ARGUMENTAÇÃO
Os dois princípios da argumentação que usaremos bastante e aos quais queremos que estejam familiarizados são:
a. Lei da não-contradição: este princípio pode ser evidente ou não. Dentro de um argumento “comum”, como os mostrados anteriormente, esta lei faz com que uma das premissas anule outra ou a conclusão. Quando o argumento está em apenas uma frase (geralmente na frase há premissa e conclusão, mesmo que oculta) precisamos de um pouco mais de cuidado. Por exemplo frases como: “Todas as verdades são relativas” e “a verdade não pode ser conhecida”, são autocontraditórias, isto é, são falsas em si mesmas. No primeiro exemplo para que ela fosse uma verdade a própria frase teria que ser uma verdade absoluta, logo haveria ao menos uma verdade absoluta: o próprio argumento, assim, dizer que não há verdade absoluta é uma mentira. O segundo exemplo segue raciocínio parecido. Mudar a frase para “Há apenas uma verdade absoluta: que todas as verdades são relativas.”, não melhora a situação. Vamos colocar isto em formato de argumentação:
1. Há apenas uma verdade absoluta.
2. Todas as verdades são relativas.
3. Logo, ...
Como podem ver, qualquer conclusão não será terá relação com as premissas, pois elas são contraditórias (se anulam).
b. lei da exclusão do meio-termo ou terceiro excluído: como deve ter ficado claro acima, premissas e conclusão só podem ser verdadeiras ou falsas, isto é, verdade ou mentira; “é” ou “não é”. Utilizando o exemplo que usamos em outra postagem de teístas e ateístas, eles têm uma visão distinta e diretamente oposta: Deus existe ou não. Não há uma terceira opção ou meio termo. Assim um dos dois estará crendo na verdade e o outro, inevitavelmente, na mentira.

ESTÓRIA QUE ILUSTRA A IMPORTÂNCIA DO ARGUMENTO
SIRE, abre seu livro (Dando nome ao elefante) com uma estória interessante que mostra a importância do argumento. Por retratar algo bastante corriqueiro geralmente não percebemos que o que estamos fazendo seja uma argumentação. Não posso aqui trazer a estória completa, mas vou fazer uma síntese para você entender o ponto:
Certo dia um menino chega para o pai e pergunta como o mundo fica suspenso no espaço.
O pai respondeu que era um camelo que sustentava o mundo.
O menino então pergunta o que sustenta o camelo.
O pai responde que é um canguru.
O menino não satisfeito, pergunta o que sustenta o canguru.
O pai responde que há outro animal que sustenta o canguru e a cada vez que a criança pergunta o que sustenta o animal anterior o pai cita um animal diferente chegando até um elefante.
O menino, ainda não satisfeito, pergunta o que sustenta o elefante e o pai, já cansado daquilo e sem saber o que dizer, responde: “é elefante a perder de vista”.
Nesta estória que um mau argumento entra num ciclo infindável de porquês e nenhuma resposta é satisfatória. No final a única resposta é, como diria Chicó, do “Auto da Compadecida”, do escritor Ariano Suassuna: “não sei, só sei que é assim”.
O que esta estória ilustra além da importância do argumento são “duas características de qualquer cosmovisão: seu entendimento da realidade primordial e sua natureza pré-teórica” (SIRE).
Mas o que vem a ser “realidade primordial”? É aquilo que é realmente real (soou meio estranho, mas é isto mesmo, rsrsrsrs). É a partir deste ponto que podemos definir como algo pode ser conhecido e a partir daí formular perguntas e respostas a estas perguntas. Como escreveu Sigmund Freud: “Em minha opinião ... cosmovisão é uma construção intelectual que resolve todos os problemas da existência de maneira uniforme com base em hipótese primordial, que, por conseguinte, não deixa perguntas sem resposta e na qual tudo o que nos interessa encontra seu lugar permanente.” (APUD SIRE).
E o que é a natureza pré-teórica? É aquilo que você conhece intuitivamente. Que não é preciso formular um argumento para defender a existência ou ser entendida como verdade absoluta. São as noções mais básicas que temos e as quais quase nunca pensamos sobre elas, mas que sustentam todas as nossas escolhas.

CONCLUINDO
Agora que já sabemos como nos orientar para saber quais são verdadeiras e quais são falsas será muito mais fácil tirarmos conclusões acertadas do que vamos estudar. Lembrando que quanto mais evidências temos, de menos fé precisamos; que a verdade existe, que ela é importante e que é possível identifica-la e conhece-la.
A partir da próxima postagem começaremos a tratar de outros pontos fundamentais das cosmovisões antes de entrarmos nas cosmovisões fundamentadas mais conhecidas.

Até a próxima!

" "Porque nada podemos contra a verdade, senão em favor da própria verdade." (II Co. 13:8) "Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros." (Ef. 4:25)
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Graduado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.
Visitem nosso blog: http://sepade.blogspot.com

Bibliografia

- GEISLER, Norman & TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. Editora Vida, 2006.
- PADRÃO, António – Algumas noções de lógica. Portugal, 2004. Disponível em: https://criticanarede.com/log_nocoes.html. Acesso em 12/03/2019;
- SIRE, James W. Dando nome ao elefante: Cosmovisão como um conceito. 2ª edição. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2012;
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