» 09 de janeiro de 2018
"Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” [Ex. 20:4]
"Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto." [Mt. 4:10]
"Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas." [Mt. 6:24]
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Jesus não menciona o 2º mandamento
Assim como dissemos na postagem anterior alguns mandamentos não foram citados de forma explicita por Jesus; o segundo mandamento é um deles. Mas como a questão de culto as imagens de escultura e outros deuses estão intimamente ligados ao primeiro mandamento então podemos perceber claramente a forma como Jesus o menciona e aborda nos mesmos textos que utilizamos anteriormente. Este, no entanto, tem a particularidade de ser o único mandamento onde sua literalidade era totalmente observada, ou seja, na época de Jesus não haviam, entre os judeus, quem tivesse ou adorasse imagens. Assim como em muitos outros assuntos não poderíamos esperar uma abordagem clara e direta sobre o assunto nos evangelhos. Entretanto veremos como Jesus o aplicou e ensinou observando alguns eventos narrados nas Escrituras.
Contexto histórico
Vocês já estão bem posicionados quanto ao contexto histórico de quando Deus entregou os mandamentos ao povo de Israel. Nos resta apenas falar um pouco sobre como eles “herdaram” a questão das imagens dos egípcios.
Os egípcios tinham inúmeros deuses e tinham deuses para tudo. Estes deuses ganhavam representações de elementos da natureza, pessoas, animais ou híbridos. Estas representações eram feitas em pinturas ou esculturas e estas eram vistas por todos os lugares: templos, sepulturas, praças, casas...
Podemos entender que tinham a correta noção de que para adorar um deus precisa-se conhece-lo e para isso tinha que ser visto ou tocado. Cada deus que era “apresentado” aos egípcios tinha que ter forma, nome e uma determinada “especialidade”. Até mesmo alguns animais eram tidos como deuses ou como sagrados. Desta forma o povo de Israel também tinha a tendência do restante das civilizações de que para adorar a um deus devia-se haver uma representação física sua. E na primeira oportunidade em que ficaram sem o líder construíram um bezerro para representar a Deus [Ex. 32:1-5].
Paralelo com a atualidade
Podemos comparar a antiga forma de religião dos egípcios com o atual hinduísmo ou mesmo, de certa forma, com o catolicismo romano (onde os deuses se transformaram nos santos). Os deuses mais importantes ganham templos (ou catedrais) e cidades inteiras para proteger (os chamados padroeiros) enquanto os demais se tornam deuses locais ou familiares.
A ideia de famílias “adotarem” deuses não é nova na verdade. Podemos ver menções disso no AT, como por exemplo em Gn. 31:19 e facilmente será lembrado pelos brasileiros de mais idade pois várias famílias os tinham em suas residências.
O segundo mandamento
Quando os israelitas ouviram o segundo mandamento as palavras soaram aos seus ouvidos como uma ordem para não fazerem representações físicas de Deus. Era uma ordem para se afastar de toda forma de culto religioso que conheciam ou que iriam conhecer nas terras por onde estariam.
Sua implicação
Deus estava lhes dizendo para não tentarem criar uma forma d’Ele, não tentarem imaginar como ele seria fisicamente (até porque Deus é espirito [Jo. 4:24]) e não O diminuir a semelhança de um objeto. A transformação do criador em criatura da criatura.
Também era uma advertência para não acabarem voltando ao politeísmo. Se cada um fizesse uma imagem de Deus conforme suas próprias concepções inevitavelmente, em algum momento, seriam tratadas como deuses diferentes e passariam a ter nomes diferentes ou como um deus que tem muitas representações (podemos ver isso facilmente com os santos do catolicismo romano) sendo que nenhuma delas seria verdadeira. O Deus da verdade não queria que nos iludíssemos com falsidades. Este mandamento também evita que em algum momento tenhamos nosso culto voltado para o objeto ou para outro deus. Neste sentido este mandamento complementa perfeitamente o primeiro mandamento visto na postagem anterior.
Uma explicação bem interessante de um livro que ganhei de meu tio Francisco diz: “Por que o segundo mandamento proíbe fazer ídolos ou imagens para representar a Deus? Porque, não importa quão grandes os façamos ou quanto de ouro, diamantes ou outras coisas usemos para cobri-los, a única coisa que conseguimos é tornar Deus menor. Inevitavelmente, nós O reduziremos à dimensão de um conceito meramente humano. ... Uma imagem mental pobre acerca de Deus ...” (WADE, Loron; Os Dez Mandamentos – Princípios divinos para melhorar seus relacionamentos; Tatuí – São Paulo; Casa Publicadora Brasileira, 2006).
Como Jesus o interpretou
Como dissemos, no início da postagem, adoração a outros deuses e imagens de escultura não eram um problema no meio do povo judeu. Jesus então o levou a outras formas de ídolos e deuses que muitas vezes começamos a cultuar sem perceber. Já falei um muito sobre isso na postagem de 16 de setembro de 2015 e não vou repetir aqui. Peço ao querido leitor que faça a leitura da referida postagem e depois volte para dar continuidade a esta.
Jesus mostrou que os ídolos estão naquilo que mais almejamos, “porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” [Mt 6:21]. Um dos maiores problemas na época ainda é um grande problema hoje: a busca pela riqueza material. Como os pais da nação judaica eram homens que foram grandemente abençoados por Deus com posses então fora feita uma associação de riqueza como benevolência de Deus. Acreditavam que os ricos herdavam o reino de Deus e que os pobres não tinham o seu favor imediato. Grande parte desta cultura também foi herdada dos egípcios. Jesus, no entanto, lhes mostra que ao buscarem de todas as formas serem ricos estavam ferindo o segundo mandamento. Seus corações estavam nas riquezas e vemos isso mencionado em vários textos (além do mencionado no início desta postagem). Deixarei aqui algumas referências para vossa leitura posterior [Mt. 13:22; 19:21; Mc. 10:23-25; 12:41-44; Lc. 12:13-21; 16:14; 16:19-31].
Temos assim que as imagens de esculturas ou ídolos não precisam ser exatamente um objeto feito especificamente para culto. Será tudo aquilo que colocamos nosso coração e o tira de Deus. Que toma o lugar de Deus e o que é d’Ele [Mt. 22:21]. No caso dos judeus da época de Jesus era a busca pela riqueza e pelo status social. Não muito diferente de hoje. Hoje, no entanto, há muitas coisas que tem tomado o lugar de Deus. Não vou elenca-las aqui, mas o leito honesto pode fazer uma autoanálise do que é prioridade em sua vida. Quero lhes lembrar as palavras de Jesus: "buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino (de Deus) e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas." [Mt 6:33 (ARA)].
Síntese
O segundo mandamento do Decálogo não é para ser entendido mais apenas como originalmente. Com a vinda do Cristo devemos entendê-lo conforme sua interpretação. Assim, para cumpri-lo, não temos apenas que não cultuar imagens de escultura, mas também de não termos qualquer espécie de ídolos. Não podemos substituir a Deus por nenhuma outra coisa. Deus não pode em nenhum momento estar em segundo plano. Não deixamos de estar com nosso amor para fazermos qualquer outra coisa; antes fazemos tudo que é possível com ele ao nosso lado. Façamos então todas as coisas sem que Deus seja substituído por nenhuma delas, como disse São Paulo: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” [1Co 10:31].
Os aguardamos nas próximas postagens.
"No entanto, os que ambicionam ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitas vontades loucas e nocivas, que atolam muitas pessoas na ruína e na completa desgraça. Porquanto, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e por causa dessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se atormentaram em meio a muitos sofrimentos." [1Tm 6:9-10 (KJA)].
DEUS OS ABENÇOE GRANDEMENTE!
Ozires de Beserra da Silva
Técnico em Informática, Licenciado em Matemática e Servo do Deus Altíssimo.
Bibliografia
- História de Deus, A. Morgan Freeman. Episódio 04: Quem é Deus? Natioanal Geographic, 2015. 51 min. Som, colorido, dublado ou legendado para o português. Exibição: NetFlix.
- Lição 10: Jesus e o dinheiro. Lições Bíblicas: Jesus, o homem perfeito. Disponível em: http://escoladominical.assembleia.org.br/licao-10-jesus-e-o-dinheiro-2/. Acesso em: 08/01/2018;
- Os deuses egípcios. Disponível em: http://www.sohistoria.com.br/ef2/egito/deuses.php. Acesso em: 05/01/2018;
- WADE, Loron; Os Dez Mandamentos – Princípios divinos para melhorar seus relacionamentos; Tatuí – São Paulo; Casa Publicadora Brasileira, 2006;